Todos os anos, centenas de policiais militares são deslocados para as praias da região como reforço na segurança. Cada soldado recebe R$ 100 por dia para custear a alimentação e a estada, valor que não é reajustado desde 2001. A reportagem de “A Notícia” conversou com soldados que denunciaram as más condições de alojamento e as dificuldades em se manter fora de casa.
Continua depois da publicidade
Um policial militar de Joinville, que prefere não se identificar, conta que participou de dez operações Veraneio, mas que neste ano não foi por causa do valor da diária. Há dois anos, ele trabalhou no balneário de Enseada, em São Francisco do Sul. Na época, além de receber os mesmos R$ 100, a única opção de alojamento gratuita era a sala de aula de uma escola.
– A única coisa que tinha eram as cadeiras e as carteiras. Era preferível ir e voltar, mas quando estava cansado tinha de me sujeitar a dormir em cima das carteiras.
Ele conta que a alimentação era basicamente lanches, já que estavam sempre na rua fazendo rondas e, por se tratar de alta temporada, os valores de cada refeição giravam em torno de R$ 20.
Continua depois da publicidade
Longe de casa
– Nos sentimos prejudicados, ninguém quer abandonar a família. Há o perigo das estradas para fazer bate-volta. Não é viável para o policial militar hoje ir trabalhar na praia -, desabafa o soldado.
Outro PM, também de Joinville, que foi escalado para trabalhar na praia da Enseada nesta temporada, conta que as condições de alojamento no local, assim como a diária, não mudaram de dois anos para cá.
– Tem a sala de aula de um colégio e um banheiro para cerca de 35 policiais que formam uma turma -, disse.
Continua depois da publicidade
Por causa das más condições e do gasto que se torna maior, ele ficou apenas um dia na escola e depois começou a fazer bate-volta.
– É mais vantagem voltar para cá porque não se gasta tanto -, revela.
Associação negocia aumento
O presidente da Associação de Praças de Santa Catarina (Aprasc), Elisandro Lotin de Souza, diz que a associação pede a correção pela inflação ainda para esta temporada. Segundo o estudo encomendado ao Dieese, o reajuste seria de 122,38%, o que equivaleria a R$ 222 por dia para cada policial.
– Não dá mais para os profissionais da Polícia Militar irem para a praia por esse valor, é pagar para trabalhar -, disse o presidente.
Continua depois da publicidade
Nos últimos anos, a associação tem se reunido com o secretário de Estado da Segurança Pública, César Augusto Grubba, e com o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Nazareno Marcineiro, para reivindicar o reajuste. Somente neste mês, houve duas reuniões, mas até agora a classe não foi atendida.
Mais vagas para as cidades que contam com alojamentos e melhores condições de estada para os militares também estão sendo pedidas.
– Fiz visitas a Barra Velha, Piçarras e Balneário Camboriú, a maioria dos policiais é forçada a ir, sob pena de desobediência -, conta.
Continua depois da publicidade
Contraponto
O major da Polícia Militar João Batista Réus explica que o reajuste não depende apenas do comandante-geral, coronel Nazareno Marcineiro.
– Em nenhum momento concordamos com este valor, mas não depende só dele -, disse.
Réus explica que a diária é fixada pela lei 5.645/79, que determina a remuneração da diária não apenas para os policiais militares, mas para todos os servidores da Segurança Pública do Estado (bombeiros, policiais civis, promotores). Segundo o major, Marcineiro tem conversado com frequência com o governo e o objetivo é conseguir melhorias no geral para os policiais.
– A gente sabe que a diária de R$ 100 não é condizente com a realidade -, diz ele.
Segundo informações da Secretaria de Estado de Segurança Pública, o valor da diária é determinado pela lei e para ser modificado seria necessário um estudo do comitê gestor do governo, de acordo com o orçamento estadual, para depois encaminhar o projeto de lei à Assembleia Legislativa, que teria que aprovar a nova diária.
Continua depois da publicidade