Entre lançamentos de pedras e de bombas de gás lacrimogêneo, dezenas de migrantes bloqueados na Sérvia forçaram nesta quarta-feira uma parte da grade, após enfrentarem a Polícia húngara, o primeiro incidente deste tipo desde que Budapeste fechou essa fronteira.
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Pelo menos 1.191 migrantes chegaram à Croácia hoje, abrindo uma nova rota de entrada para a União Europeia, informou o Ministério croata do Interior, em nota à imprensa.
Tropas de choque húngaras se viram sobrecarregadas, ao cair da tarde, com a pressão dos migrantes. A multidão conseguiu arrancar uma parte da cerca próxima da passagem fronteiriça de Roszke. As forças de ordem recuaram perto de 50 metros diante dos migrantes, constataram jornalistas da AFP.
“Yala! (Vamos!)”, gritavam os jovens migrantes, lançando pedaços de asfalto contra os policiais, antes de entrarem em território húngaro, com os olhos avermelhados pelo gás.
“Eu te detesto, Hungria! Obrigado, Sérvia”, gritou o iraquiano Hassan.
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‘Situação sob controle’
A calma retornou no final do dia, e a polícia húngara garantiu ter “a situação sob controle”. De acordo com um balanço revisto para baixo pela corporação, 14 agentes ficaram feridos, e não 20, conforme anunciado anteriormente.
Uma fonte sérvia disse à AFP que vários migrantes ficaram feridos, mas não deu detalhes.
Segundo a Anistia Internacional (AI), durante esses violentos incidentes, pelo menos nove pessoas, entre elas quatro crianças, foram separadas de suas famílias pela Polícia. A AI reivindica que essas pessoas sejam imediatamente soltas, para que possam reencontrar seus parentes.
Estes foram os primeiros incidentes desse tipo constatados desde que Budapeste fechou sua fronteira com a Sérvia na noite de segunda-feira.
De Nova York, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, considerou “inaceitável” o tratamento dos migrantes por parte da Polícia húngara.
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Principal país de trânsito na Europa Central com mais de 200.000 pessoas tendo passado pelo território desde janeiro, a Hungria decidiu fechar sua fronteira com a Sérvia, construindo uma cerca que obrigou os migrantes a buscarem outras rotas de entrada ao bloco.
Na Turquia, centenas de sírios tentavam chegar à Grécia por terra e, assim, unirem-se ao fluxo de migrantes. Pelo menos 500.000 já chegaram à UE este ano, após longas e perigosas viagens pelas estradas, ou em precárias embarcações.
Segundo Zagreb, 350 refugiados foram registrados durante a tarde em Tovarnik. A Croácia prevê receber até 1.500 refugiados por dia e espera que cheguem cerca de 4.000 refugiados nos próximos dias.
Um trem com capacidade para mil passageiros foi buscar migrantes perto de Tovarnik para levá-los ao centro de recepção de Zagreb.
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Perante o Parlamento, o primeiro-ministro croata, Zoran Milanovic, assegurou que a Croácia estava disposta a conduzir os migrantes “até os destinos que desejam chegar: Alemanha e Escandinávia”.
“A Hungria fechou sua fronteira. Por isso, viemos à Croácia. Não temos outra opção”, explicou à AFP o paquistanês Waqar, de 26 anos, em Tovarnik.
Os migrantes foram interceptados pela polícia croata pouco depois de atravessarem a “fronteira verde”, através do campo onde, do lado croata, algumas zonas ainda não foram desminadas desde o conflito com a Sérvia.
“Tampouco sabemos o que devemos fazer agora. Devemos pegar um barco?”, perguntava-se o mauritano Amadou, de 35, ao sair de um ônibus perto da fronteira, visivelmente desorientado.
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‘Uma mensagem horrível’
Milanovic criticou a política do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, e disse que “a construção de muros não deterá ninguém e passa uma mensagem horrível”.
A Romênia convocou o embaixador húngaro em Bucareste para expressar sua “preocupação”, após a decisão da Hungria de construir uma cerca antimigrantes na fronteira entre ambos os países.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, considerou que uma solução para o conflito na Síria constitui a única maneira de conter o fluxo de refugiados sírios. A solução, segundo ele, “não pode ser (…) colocar cercas”.
As medidas húngaras foram radicais: de acordo com a polícia, 367 migrantes entraram na Hungria na terça-feira e todos foram detidos, podendo ser condenados a penas de até cinco anos de prisão.
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Na Turquia, os migrantes, principalmente sírios, decidiram buscar outras rotas alternativas ao mar para chegar à Europa continental.
Alguns empreenderam, junto com seus filhos, um caminho de 250 km de Istambul até Edirne (norte), porta de entrada terrestre à Grécia.
Além disso, a Lituânia deteve, em menos de duas semanas, dezenas de iraquianos que viajam para o norte da Europa.
Em Salzburgo, no oeste da Áustria, centenas de migrantes abandonaram a estação de trem a pé com a esperança de chegar à Alemanha, cuja fronteira se encontra a 5 km.
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Na terça-feira, a chanceler alemã, Angela Merkel, e seu homólogo austríaco, Werner Faymann, solicitaram a realização de uma cúpula europeia para acordar a repartição obrigatória de 120.000 refugiados.
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, declarou que a França “não hesitará” em restabelecer os controles temporários das fronteiras, “se for necessário”.
* AFP