Com o objetivo de tornar mais ágil e eficiente o combate às quadrilhas que abastecem o sul do Brasil com drogas vindas do Paraguai, policiais gaúchos, catarinenses e paranaenses montaram o que apelidaram de “rede da confiança”, uma colaboração entre eles sem a burocracia oficial. Há muitos anos, como consta em inquéritos tramitando nos três Estados, os bandos que operam com o transporte, a distribuição e o varejo de drogas na região estão integrados.
Continua depois da publicidade
Para entender a importância da rede da confiança para os policiais que trabalham em campo, é preciso conhecer a cultura da colaboração entre as forças policiais dos três Estados: a desconfiança. Graças a essa desconfiança, a parceria entre os três Estados é lenta e não consegue acompanhar a velocidade dos acontecimentos. Os bandidos são mais rápidos.
Um símbolo da desconfiança é o fato de que as polícias enviam equipes para fazer investigações e prisões em outros Estados, na maioria das vezes, sem avisá-los.
Por vezes, esse tipo de coisa acaba em tragédia, como a que aconteceu no Rio Grande do Sul em dezembro do ano passado: três agentes da elite da Polícia Civil do Paraná foram a Gravataí realizar uma investigação sobre o sequestro de dois agricultores. Não avisaram a polícia gaúcha, e acabaram sendo confundidos com bandidos pelo sargento da Brigada Militar (BM) Ariel da Silva, 40 anos. Houve troca de tiros entre eles, e o sargento foi morto.
Continua depois da publicidade
O rosto da rede
A rede funciona de maneira simples, e o seu pilar é a confiança entre os agentes: o policial manda um e-mail ou faz uma ligação para o seu colega e imediatamente a rede é acionada, descreveu o delegado Heliomar Athaydes Franco, diretor de investigação do Departamento Estadual de Investigação do Narcotráfico (Denarc). Ela começou a ser gestada há meio ano entre os policiais gaúchos, paranaenses e catarinenses.
Na última quarta-feira, apareceu o seu primeiro resultado: a Operação Liberdade, que iniciou em outubro e foi concluída com a apreensão de 144 quilos de maconha e a prisão de 28 pessoas envolvidas com tráfico de drogas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Além do tráfico de drogas, eles também estão envolvidos com ataques a ônibus de muambeiros – compradores de mercadorias no Paraguai.
A operação começou dentro do gabinete da delegada Ana Cristina Ferreira Silva, em Cascavel (PR), na delegacia da Divisão Estadual de Narcóticos da Polícia Civil do Estado do Paraná. Ela investigava uma quadrilha que vinha tendo sucesso por dominar todas as pontas do processo do tráfico de drogas: a compra no Paraguai, o transporte e a distribuição.
Continua depois da publicidade
Durante a investigação, ela entrou em contato com os delegados Franco, do Denarc gaúcho, e Anselmo Cruz, da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Santa Catarina. Equipes de policiais gaúchos e catarinenses trabalharam recolhendo informações e cumprindo mandados de prisão.
– Imagine se precisa enviar equipes para fazer o trabalho – comentou delegada.
Até agora, a rede é uma ação entre um punhado de agentes que trabalham em uma das regiões dominadas pelos traficantes, devido à proximidade com o Paraguai, o maior fornecedor de maconha da América do Sul.