Ao menos nove pessoas serão ouvidas a partir desta terça-feira pela Polícia Civil sobre o incêndio que destruiu a prefeitura de Criciúma, no Sul do Estado. Elas foram as últimas que saíram do prédio municipal antes de as chamas iniciarem e se alastrarem no andar superior, às 12h30min de domingo. São sete funcionários de empresas que trabalharam na manutenção das redes elétrica e de informática e dois guardas municipais que faziam a segurança.

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Os depoimentos fazem parte da primeira etapa da investigação liderada pela Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Criciúma na tentativa de esclarecer o mistério que toma conta da cidade sobre as causas do segundo e mais danoso incêndio que atingiu o Paço Municipal em menos de duas semanas.

A outra providência já iniciada pela polícia é uma varredura em busca de imagens de câmeras de segurança nas redondezas do prédio, uma ampla área verde cercada por condomínios residenciais e comerciais.

Um dos edifícios que fica na lateral da prefeitura possui câmeras no alto. O delegado Márcio Campos Neves disse que já pediu ao condomínio a cópia da gravação, em que buscará visualizar os momentos que antecederam o incêndio.

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Além de Neves, outros dois delegados da DIC e o delegado regional Jorge Koch deverão atuar no caso. Eles têm cautela nas declarações sobre a suspeita de ação criminosa e garantem que até agora não apareceu nenhuma pista que reforçasse essa possibilidade.

– O que intriga é o segundo incêndio ter ocorrido menos de 12 dias após o primeiro sendo que a prefeitura assegura que tomou todas as providências com a segurança da estrutura do prédio. Isso é estranho – observa o delegado Neves.

Ainda mais comedido é o delegado regional, Jorge Koch. Apesar da experiência de 32 anos na Polícia Civil, ele não quis fazer suposições.

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– Só a perícia vai dizer o que aconteceu – declarou.

Nesta segunda-feira, peritos do Instituto Geral de Perícias (IGP) de Criciúma andaram pela frente do prédio incendiado, fizeram fotografias e anotações. A área interna seguia interditada porque havia risco de desabamento e bombeiros e a Defesa Civil devem decidir nesta terça a data da liberação. A perícia só será feita, com apoio de uma equipe de Florianópolis, quando a entrada na estrutura for liberada. O coordenador do IGP em Criciúma, Norton Santos Machado, afirmou que o resultado poderá sair em 15 a 20 dias.

– Por enquanto seria muito precipitado apontar qualquer coisa. O que posso adiantar é que o primeiro incêndio (dia 27) teve como causa a sobrecarga na parte elétrica – informou Machado, descartando ação criminosa.

O antigo prédio da Domínio Sistemas foi cedido pelo prazo de um ano para abrigar boa parte da estrutura, como os gabinetes do prefeito e vice-prefeito, Secretaria da Fazenda, Procuradoria, Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Econômico, DPFT e Cadastro ficarão na estrutura situada no bairro Próspera, na Avenida Estevão Emilio de Souza, próximo ao Hospital Unimed.

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A Secretaria da Saúde ficará alocada no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), no bairro Universitário, e a Secretaria da Educação seguirá, na Biblioteca Municipal. Como os servidores da prefeitura estão fora do ar, a prefeitura disponibilizou um link em sua página oficial do Facebook para a emissão de notas fiscais.

Na tarde de segunda, o governador do Estado, Raimundo Colombo, e o vice, Eduardo Pinho Moreira, estiveram em Criciúma para prestar apoio à prefeitura. Segundo Búrigo, Colombo prometeu apoio institucional e financeiro.

A perda física de 60% do prédio, interditado ontem pela defesa civil, por risco de desabamento, é o que menos preocupa agora, segundo o vice-governador. A apreensão maior é com a perda de documentos da procuradoria.

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– A parte física será facilmente reconstruída, questão de tempo. A história é que nós vamos ter que buscar, a memória de nossos historiadores. Vamos ter que reorganizar tudo, pois uma cidade sem passado, sem história, não saberá escrever corretamente o seu futuro.

Como parte da estrutura foi comprometida e corre risco de desmoronamento, as perícias do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e Instituto Geral de Perícias foram feitas apenas pelo lado de fora, segunda, e a quantia de documentos perdidos ainda não foi verificada.

Prefeito estranha velocidade das chamas

Em entrevista na sede da Associação Empresarial, na tarde desta segunda, o prefeito Márcio Búrigo pouco comentou sobre a investigação, evitando lançar suspeitas de ato criminoso.

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Indagado a respeito, Búrigo admitiu achar estranho o volume e a velocidade com que as chamas se propagaram dentro da prefeitura, o que para a maioria das pessoas gera a dúvida sobre possível ação criminosa.

– Os técnicos todos afirmam que estávamos preparados e que não estávamos correndo risco e nesta segunda mesmo voltaríamos a atender. Essa intercorrência agora vem causando reação em técnicos e pessoas que trabalharam até domingo e o volume e a velocidade das chamas vêm colocando as pessoas em dúvida. A comunidade está muito ansiosa e quer uma resposta – disse o prefeito.

Perda histórica

A prefeitura de Criciúma foi inaugurada no Paço Municipal em 1980, ano em que o município completou 100 anos de fundação.

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Além da destruição da parte física do prédio, chamou a atenção o sentimento coletivo de lástima instalado com a perda da documentação e arquivos históricos, principalmente entre lideranças políticas da região.

– Mesmo que se tenha back-up da parte administrativa, o acontecimento é de grave repercussão, especialmente pela perda dos acontecimentos históricos registrados que se foram – lamentou o vice-governador, Eduardo Pinho Moreira, que é de Criciúma.

Para a secretária da Justiça e Cidadania e deputada estadual licenciada, Ada de Luca, também de Criciúma, “o momento é triste e não é possível imaginar que alguém possa ter feito algo para atentar contra a própria cidade”.

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*Colaborou Kiara Domit