Após a reconstituição do crime que matou três pessoas da mesma família em Alfredo Wagner, na Grande Florianópolis, a Polícia Civil revelou mais detalhes sobre o que se apurou em relação ao triplo homicídio. Com auxílio do Instituto Geral de Perícias (IGP), a investigação descobriu que mãe e filho foram mortos em questão de 10 minutos, antes do meio-dia de 9 de agosto, uma sexta-feira. O último assassinato ocorreu cerca de meia hora depois e vitimou o pai.
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Carlos Alberto Tuneu, 67 anos, foi morto a caminho de casa, aproximadamente um quilômetro distante da propriedade. A esposa, Loraci Matthes, 50, e o filho do casal, Mateo Tuneu, 8, foram mortos dentro da casa onde a família morava. A reconstituição, realizada na quinta-feira (22), confirmou a ordem. O principal suspeito e réu, Arno Cabral Filho, 44 anos, segue preso em Lages, na Serra Catarinense. Ele foi capturado pela Polícia Militar no início da noite, no dia em que ocorreu o triplo homicídio, na cidade vizinha de Bom Retiro.
Não era meio-dia, mas o almoço já estava pronto “dentro do micro-ondas para aquecer”, segundo o agente de Polícia Civil, Vanderlei Kanopf. Mateo Tuneu, 8 anos, vestia o uniforme da escola e aguardava o transporte para realizar a "tarefa", como havia descrito à irmã, pouco mais cedo, através de um áudio telefônico.
O menino foi morto por volta das 11h40min, segundo indicou o IGP. A mãe havia sido assassinada 10 minutos antes, depois que se negou a entregar um caderno de capa escura, onde havia anotações sobre a dívida que motivou o triplo homicídio, conforme investigação.
De acordo com a polícia, houve discussão e resistência de Loraci. Ela foi atingida pelas pancadas. O filho morreu porque testemunhou o assassinato da mãe. O último homicídio foi de Carlos, por volta de 12h07min, também conforme indicou perícia. O pai retornava para o almoço com a família, quando foi abordado no meio da estrada, cerca de um quilômetro distante do sítio onde os três residiam.
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— Ele (Arno) esteve na propriedade para reaver o documento que tinha assinado na noite anterior, onde reconhecia a dívida e se comprometia a pagar ela até o meio-dia daquela sexta-feira (9) — explicou Kanopf.
Apesar de ser o último a morrer, foi o primeiro encontrado por testemunhas. Estava caído, ao lado de uma porteira com plantação de repolhos, quando a primeira pessoa passou e viu o corpo. O ferro de 1kg, aproximadamente, usado para as mortes, teria sido lançado na ribanceira que costeia a estrada, porém, a polícia não o encontrou até o momento.

Uma marca no caminho do trabalho
O proprietário das plantações de repolho Nilton Rodolfo da Silva, passa pelo local diariamente, acompanhado da esposa.
— No dia eles cobriram o sangue que ficou no chão com terra, mas depois choveu e veio tudo pra cima. Está lá a marca — aponta, enquanto aguarda o trabalho de reconstituição realizado pelas autoridades, para seguir até as terras, onde trabalha diariamente.
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Sobre as vítimas, diz que conhecia pouco, embora sempre cumprimentasse.
— Eles podiam passar quantas vezes fosse. Jogavam o braço pra fora e abanavam – resume.
Um choque para a comunidade
Três homicídios é o número contabilizado pela Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina entre 2016 e 2018 em Alfredo Wagner. É o mesmo número de homicídios registrados em um único dia na cidade.
A proprietária de um restaurante instalado logo na entrada da cidade, que preferiu não se identificar, relatou que a paranaense e o filho frequentavam o local para comprar salsicha, a pedidos do menino.
Ele era dócil, inocente. Uma criança sorridente. A gente sente mais por ele, que não tinha nada que ver – lembra.

Aos poucos se recuperando do susto, porém ainda receosos em comentar, já que o suspeito também é muito conhecido dos moradores e comerciantes da cidade, a impressão que se tem é a mesma: o choque pela brutalidade que ocorreu com o menino.
CONTRAPONTO
A defesa constituída pelos advogados Diego Rossi Moretti e Jonas de Oliveira afirma que a polícia foi arbitrária e comparam o depoimento colhido logo após a prisão à uma série americana chamada "Olhos que Condenam".
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— Nós reafirmamos que ele não é o autor. A polícia foi direto nele provavelmente porque tinha uma ocorrência de ameaça que registrou contra o homem morto, uma semana antes. A polícia nem abriu duas linhas de investigação, como deveria ser — diz Oliveira.