Do interior do Estado para o salão nobre do comando-geral da Polícia Militar de Santa Catarina passaram-se 30 anos. As duas universitárias que deixaram suas famílias para integrar a primeira turma mista do curso de formação de oficiais, hoje são titulares dos dois mais altos postos da corporação ocupados por mulheres.

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Claudete Lehmkuhl e Tércia Ferreira da Cruz simbolizam as 589 praças e oficiais do Estado nesta homenagem pelos 30 anos da mulher na Polícia Militar de Santa Catarina, comemorados nesta terça-feira, às 15h, em solenidade no Teatro Pedro Ivo, em Florianópolis.

Elas quebraram paradigmas, enfrentaram preconceitos, lutaram pela unificação dos quadros da PMSC em 1998, conciliaram a maternidade com a carreira, e até hoje equilibram a dupla jornada de trabalho. Sempre com um principal objetivo: ajudar a sociedade.

Oficiais pioneiras na corporação ao lado da tenente-coronel da reserva Maria de Fátima Martins, Claudete e Tércia tem funções de comando. A primeira é chefe do Centro de Comunicação Social com 80 subordinados. A segunda (por ordem alfabética) é sub-chefe da Agência Central de Inteligência e tem 30 pessoas sob seu comando direto.

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Depois de galgar os postos de aspirante a oficial, segundo tenente, primeiro tenente, capitão e major, as duas colegas de turma e amigas ostentam na impecável farda, desde 2008, duas estrelas amarelas e uma prata, símbolo da patente de tenente-coronel.

Natural de Santo Amaro da Imperatriz e formada em Ciências Sociais, Claudete largou a faculdade de Física para ingressar na PM. Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento, Tércia deixou a faculdade de Administração para entrar na corporação.

Tércia se emociona quando fala da última frase que o pai disse, em junho de 1983, quando a trouxe de carro, de Canoinhas, no Planalto Norte para morar no internato da PM e fazer o curso de três anos.

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– Seja feliz se é isso que você quer mesmo -.

Claudete também sofreu certa resistência da família, natural quando se considera os riscos da profissão.

Crédito da foto: Arquivo pessoal

Comandante-geral deseja parabéns à todas as praças e oficiais

Durante exercícios de sobrevivência na selva ou no comando de conflitos, Claudete e Tércia nunca perderam a vaidade. As unhas estão sempre pintadas e mesmo quando se arrastavam na mata usavam batom. Para elas, é importante como contraponto da farda, meio masculinizada.

O preconceito que sofreram foi combatido com persistência.

– Para ganhar a tropa, a mulher tem que provar sua competência – observa Claudete.

Tércia concorda e diz que ela é quem mais se cobra, tanto que pedia ao marido para levar os filhos ao médico quando crianças.

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– Como oficial, tinha que dar o exemplo – conta Tércia.

As duas são casadas e tem dois filhos cada. A gravidez foi planejada para não atrapalhar a carreira.

Sobre as diferentes aptidões, Claudete acredita que a mulher tem mais intuição e o homem mais força física. Tércia acha o homem mais pragmático e a mulher mais exigente, mesmo entre militares.

As duas sonham chegar a coronel. Perguntado se tem algum palpite sobre quando as pioneiras ganharão as três estrelas amarelas, o comandante-geral da PMSC, coronel Nazareno Marcineiro disse que não sabe porque depende de muitos fatores.

– Mas quando forem coronel certamente elas são aptas a ocupar a cadeira de comandante-geral – afirmou Nazareno Marcineiro.

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O coronel acha o ingresso da mulher na corporação de extrema relevância e importância.

– É um marco divisório. Com o trabalho delas provaram que na verdade a mulher não é frágil. Tem potencial muito grande e uma forma peculiar que torna tudo mais humanizado. Desejo parabéns à todas as praças e oficiais pelos 30 anos da mulher na Polícia Militar de Santa Catarina – observou o comandante da corporação.

Mulher na Polícia Militar de Santa Catarina

Em 1953, o primeiro Congresso Brasileiro de Medicina Legal e Criminologia, realizado em São Paulo, aprovou por unanimidade a criação da primeira Corporação Feminina Uniformizada do país, dando origem a efetivação da mulher na carreira policial militar.

Em SC, foi criado pela Lei nº6.209 de 10 de Fevereiro de 1983 o Pelotão de Polícia Militar Feminina para atuar no trato com menores, abandonados e mulheres envolvidas com delitos penais.

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No mesmo ano começaram os primeiros cursos de formação de sargentos femininos com 31 alunas e o de oficiais com cinco alunas.

Por meio da Lei nº 7.676, de 14 de julho de 1989, foi criada a Companhia de Polícia Militar Feminina, extinta em 1998 quando os quadros se unificaram e as mulheres passaram a concorrer com os homens nos mesmos postos e graduações.