A 4ª Delegacia de Polícia (DP) de Florianópolis, localizada em Coqueiros, voltou a receber denúncias de que há atestados falsos sendo emitidos em nome de médicos que não atenderam e muito menos assinaram o documento frio entregue em empresas da Capital. O caso mais recente, registrado no dia 29 de março por um médico cujo nome é mantido em sigilo pela polícia, se soma a um inquérito instaurado na mesma DP em agosto do ano passado, após registro de ocorrência feito pela médica Mirella Fabiano dos Santos, que descobriu a identidade de um homem que vendia os atestados falsos no nome dela.
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O homem a quem Mirella atribui a venda dos atestados ainda não foi ouvido pelo delegado Ilson da Silva, que vem tomando depoimentos de testemunhas, pessoas que compraram os atestados e funcionários das empresas lesadas. Mirella revela já ter ouvido de colegas da medicina outros casos em que o nome deles foi usado ilegalmente para preencher atestados médicos. Alguns, diferente dela, não chegam a registrar as ocorrências. Algo que ela nem considerou.
— São ladrões, falsificam assinaturas ou carimbos e saem a vender os atestados. Com o meu nome não fazer isso. É crime — afirma a médica.
“Uma pequena quadrilha”
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De acordo com Ilson, ao que tudo indica o suspeito vendia cada atestado por R$ 60. Ao menos 15 empresas teriam sido enganadas pela fraude, mas ao longo do trâmite do inquérito apenas quatro delas deram sequência à investigação. Ilson afirma que em ambos os casos, o da semana passada e o de 2016, os médicos não tinham conhecimento do golpe.
Em relação ao último registro, o delegado vai encaminhar a ocorrência para investigação da 5ª DP, na Trindade, bairro onde se localiza a empresa em que o atestado falso foi entregue por um funcionário. Enquanto isso, ele segue atrás dos responsáveis pelas falsificações registradas por Mirella. Para o delegado, existe a chance de outras pessoas fazerem parte do grupo, que seria “uma pequena quadrilha”, formado por pessoas com funções diferentes.
— Um é responsável por vender, outro assina. E são, em boa parte dos casos, elementos que já trabalharam em postos de saúde, Unidades de Pronto Atendimento (UPA), onde furtam carimbos, blocos, e coisas que os ajudem na fraude. Depois, eles vendem para quem vai usar nas empresas — explica Ilson, para adiantar que o último caso registrado em Coqueiros ainda não tem suspeita de autoria. Sobre a tática das quadrilhas de falsificadores, diz que é normal eles “trocarem” o nome dos médicos que emprestam ilegalmente a assinatura aos atestados.
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Empresários mobilizados
Empresários do centro da Capital estão preocupados com os atestados falsos. Principalmente em feriados prolongados, o alto índice de adoecimento dos funcionários tem levantado dúvidas sobre a idoneidade do documento.
De acordo com um levantamento realizado com associados da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Florianópolis e com apoio do Sescon Grande Florianópolis, 83% das empresas consultadas receberam pelo menos um atestado por afastamento ou declaração de comparecimento ao médico por mês durante o último ano.
A amostragem revelou ainda um aumento de 5,5% na apresentação de atestados médicos entre janeiro e agosto de 2016, se comparado ao mesmo período do ano anterior. No total, 54% das faltas foram justificadas com o documento pelos colaboradores do comércio da Capital, um número considerado alarmante. Para Lidomar Bison, presidente da CDL de Florianópolis, as empresas estão trabalhando com o quadro funcional mínimo.
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— Quando porventura o atestado for falso, significa uma apropriação indébita de salário uma vez que a doença não aconteceu. Sem contar que a ausência do colaborador afeta toda a equipe, refletindo no bom funcionamento e atendimento ao consumidor — alerta o dirigente.
O maior questionamento dos empresários é que exista uma maneira para verificar se os atestados apresentados pelos colaboradores são, de fato, verdadeiros. Isso ajudaria a prevenir que pessoas de má-fé usufruam das facilidades de forjar um carimbo e adquirir de forma irregular blocos de receituários de uso médico para prescrever o documento.
Número de afastamentos por motivo de saúde na prefeitura de Florianópolis supera média nacional