A inocência dos cinco anos de Ana Carolina Alexandre Sorato foi sepultada pela audácia de uma disputa que tem como pano de fundo o tráfico de drogas em Tubarão, no Sul de Santa Catarina.
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A menina foi a quarta vítima, somente neste ano, do confronto violento entre grupos que têm como base o Bairro Cruzeiro e o Morro do Caeté.
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Este último, segundo a Polícia Civil, tem como principais integrantes pessoas filiadas ao Primeiro Grupo Catarinense (PGC), facção criminosa apontada como autora dos ataques a ônibus e prédios públicos em Santa Catarina em 2012 e 2013 e que seria responsável também pelo atentado que matou a garota.
Sentada no banco de trás do Logan conduzido pela própria mãe, Ana Carolina foi atingida por um tiro no rosto domingo à noite no Bairro Dehon. O carro foi alvo de pelo menos 11 disparos.
Dentro do veículo estavam, além da criança e da mãe, um adolescente de 17 anos, atingido por um tiro na perna, e uma jovem. A Polícia Civil revelou que outro carro atravessou-se na frente do Logan e logo em seguida os disparos foram feitos. O número de suspeitos ainda não está confirmado.
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O que está mais do que certo para a Divisão de Investigação Criminal (DIC), que apura o caso, é que Ana Carolina não tinha culpa alguma no confronto entre os dois grupos criminosos:
– O fato nos remete há três anos, quando iniciou uma disputa por ponto de tráfico de drogas. Deu para perceber que não há inocente neste confronto, mas pudemos ver pelas provas que esse grupo (que deu os tiros) é extremamente violento. Eles sabiam que ali estaria a família do alvo e os suspeitos estavam dispostos a atirar em quem fosse – explicou o delegado responsável pela investigação, Rubem Teston.
O alvo, detalhou o delegado, seria o pai da garota, que estava na casa da família, no Bairro Cruzeiro. Desde 2011, o grupo do Morro do Caeté teria tentado matá-lo pelo menos três vezes. A última foi no ano passado, em frente à Catedral de Tubarão, quando 13 tiros o atingiram. Mesmo assim, ele sobreviveu.
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Atualmente, segundo o delegado, o pai da garota estaria afastado do tráfico de drogas e nos últimos meses ficou isolado em casa. De acordo com as investigações, ele teria sido decretado à morte pelo PGC.
– Normalmente quem é decretado pelo PGC não dura um dia, um mês. Porém, ele sobreviveu aos atentados e foi se tornando cada vez mais odiado- explicou Teston.
De acordo com o delegado, o grupo apoiado pelo PGC está muito superior em volume de componentes e armamento.
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O confronto na disputa por pontos do tráfico de drogas, além das mortes, teve pelo menos seis tentativas de homicídios e atentados contra veículo e residência.
Segundo Teston, as investigações da morte da garota iniciaram logo após o crime e só vão terminar com a prisão dos suspeitos. A morte brutal de uma criança sensibilizou diretamente os policiais, acostumados a trabalhar com casos violentos:
– Vamos trabalhar até pegá-los. Agora é questão de honra- disse um deles nesta segunda na delegacia.
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Sepultamento ocorreu em local não divulgado
A Polícia Civil tratou os detalhes do velório e sepultamento de Ana Carolina com sigilo. Na segunda de manhã, na empresa que fez os serviços fúnebres da menina, tudo estava pronto para que o velório ocorresse em Tubarão. No entanto, o corpo dela foi levado para outra cidade da região, não divulgada pela polícia.
Durante o percurso até o município onde ocorreu o sepultamento, a Polícia Civil e o Grupo Tático da Polícia Militar (PM) teriam escoltado o corpo e familiares.
A informação não foi confirmada nem negada pelo delegado responsável pelo caso, Rubem Teston da Silva, que também teria participado da escolta. O único fato confirmado por ele é que o enterro de Ana Carolina ocorreu por volta de 13h.
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Domingo à noite, logo depois do crime no Bairro Dehon, tiros teriam sido disparados em frente à Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Tubarão, onde estavam um tio e a avó de Ana Carolina.
Entretanto, o delegado negou que foram tiros. Ele atribuiu os sons ouvidos pelos familiares da garota ao barulho do escapamento de uma motocicleta. A Polícia Civil teria buscado imagens de câmeras de monitoramento das proximidades da delegacia para confirmar a informação.