Os quatro amigos que morreram enquanto bebiam em um terreno baldio do bairro Jardim Paraíso, zona Norte de Joinville, na segunda-feira, estavam acompanhados de outros três homens. Um deles prestou depoimento à polícia no fim da tarde desta terça-feira.

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Segundo o delegado Paulo Reis, o homem testemunhou que parte do grupo já bebia no local desde o período da manhã. Depois, os irmãos Gilmar Luiz Nascimento, 52 anos, e Jairo Nascimento, 53, se juntaram aos demais, trazendo com eles mais uma garrafa de bebida alcoólica.

Seria uma garrafa convencional, comprada em bar ou supermercado, mas não há certeza se teria sido misturada com outro produto – comentários chegaram à polícia indicando que as vítimas teriam comprado álcool em um posto de combustíveis.

Ainda conforme o depoimento do homem ouvido ontem, ninguém desconhecido apareceu oferecendo outra bebida aos amigos. A testemunha disse à polícia que deixou o local ainda no começo da tarde, com outros dois amigos, enquanto as quatro vítimas teriam permanecido deitadas no terreno, já embriagadas.

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Até terça, a investigação contava apenas com os primeiros nomes dos outros dois homens que beberam com o grupo e apurava a localização de cada um. Os corpos dos irmãos Gilmar e Jairo foram encontrados ao lado dos corpos de João Maria Alves dos Santos, de 66 anos, e de Orosnildo Fagundes de Oliveira, de 60, que só foi identificado mais tarde no IML.

Orosnildo chegou a ser socorrido no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, mas morreu de parada cardiorrespiratória cerca de 20 minutos depois. Segundo informações da unidade, não havia sinais que pudessem apontar a origem do que o vitimou. Assim, o corpo de Orosnildo também foi encaminhado ao IML.

Para a polícia, o resultado dos exames cadavéricos e bioquímicos são a peça-chave para desvendar o caso. Os laudos cadavéricos são aguardados em até dez dias. Mas as análises laboratoriais das garrafas de bebida recolhidas no terreno terão de ser feitas em Florianópolis e só devem ser concluídas em um mês.

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Foram coletadas amostras de pelo menos dez garrafas. A hipótese de que algum dos amigos tenha comprado ou ganhado uma garrafa com bebida adulterada não é descartada pela Divisão de Homicídios. A possibilidade de que tenha ocorrido uma reação química desencadeada pela mistura de muitos tipos de bebidas também é considerada.

– O suicídio também não está fora da nossa investigação. Um deles poderia ter colocado uma substância nas bebidas para se matar.

Mãe pressentiu que algo estava errado

– Fiquei com o coração apertado quando eles não voltaram para o almoço – contou a aposentada Maurina Nascimento, de 80 anos, que perdeu os filhos Gilmar Luiz Nascimento e Jairo Nascimento.

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O pressentimento, depois ela mesma confirmaria, não foi à toa. A notícia da morte dos dois filhos veio algumas horas depois do meio-dia de segunda, logo no começo da tarde.

– Um conhecido me contou que um deles havia morrido, mas não sabia dizer qual. Depois, descobri que foram os dois e não um só. É muita tristeza – desabafou.

Apesar de conhecer a realidade dos filhos, vítimas do alcoolismo, Maurina estava mais preocupada com Gilmar na segunda. Ela contou que a saúde dele já estava debilitada, pois o filho não se alimentava direito por causa da bebida.

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– O Gilmar bebia um pouquinho todo dia. Se ele não tomasse pelo menos um gole, dava um ataque nele, então eu deixava – confessou.

A irmã mais velha deles, Maria Valci Debarba, de 59 anos, conta que Gilmar chegou a ficar quase três anos longe do vício da bebida, mas que não resistiu e voltou a beber no final do ano passado. Gilmar e Jairo, diz ela, também tinham o hábito de beber no terreno, conhecido como “Toca”.

– Me contaram que um homem, que estava de bicicleta, jogou uma garrafa de bebida para eles na Toca e depois saiu – falou.

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No entanto, Maria disse que os irmãos não tinham inimizades nas redondezas e que não soube de qualquer ameaça de morte, embora concorde que a morte deles seja misteriosa.

A última despedida às quatro vítimas ocorreu ontem à tarde, no Cemitério do Cubatão, na zona Norte da cidade, onde eles foram sepultados. Abalados pelas perdas e pela repercussão do caso, parentes e amigos preferiram que a imprensa apenas acompanhasse a cerimônia a distância.

Alguns, no entanto, pediram que o episódio não caísse no esquecimento e seja acompanhado de perto pela Polícia Civil. João, Gilmar e Orosnildo deixam três filhos cada um, enquanto Jairo deixa quatro filhos.

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