A Polícia Civil de Governador Celso Ramos, na Grande Florianópolis, instaurou um inquérito para apurar as circunstâncias e responsabilidades da morte de um homem de 37 anos em decorrência de uma farra do boi realizada em 11 de março, no bairro Areias de Baixo. Segundo a polícia, o homem teria sido pisoteado pelo animal e sofrido vários traumas na cabeça. Ele ficou uma semana internado no hospital Regional de São José, onde morreu no domingo, 18. As informações são do Jornal do Almoço.

Continua depois da publicidade

De acordo com a polícia, após a morte a família registrou um boletim de ocorrência e o inquérito foi instaurado nesta semana. A vítima era natural de Florianópolis, mas morava em Governador Celso Ramos.

Esta não foi a primeira ocorrência de farra do boi registrada neste ano. Segundo dados do Coletivo Brasil Contra a Farra do Boi, foram recebidas, pelo menos, quatro denúncias de farras em Florianópolis e Governador Celso Ramos desde sexta-feira, dia 16. Na primeira, a Polícia Militar flagrou farristas na Estrada Vereador Onildo Lemos, no bairro Santinho. Os policiais chegaram a soltar bomba de gás lacrimogêneo e atirar com balas de borracha. Ninguém foi preso.

No domingo, 18, outra farra aconteceu em Governador Celso Ramos, na SC-410, no bairro Areias do Meio. No mesmo dia, em Florianópolis, moradores denunciaram que um bezerro estaria sendo puxado por um barco para a Costa da Lagoa para a realização da farra. Na madrugada de segunda-feira, 19, ainda em Floripa, a polícia foi chamada para outra ocorrência na Rua Laurindo José de Souza, na Barra da Lagoa.

Continua depois da publicidade

Bárbara Cardoso Hartmann, ativista e advogada, informa que o Coletivo Brasil Contra a Farra do Boi foi criado em 2017 com a intenção de coibir a prática da farra por meio de denúncias feitas pelas redes sociais.

— A nossa ideia é que a farra nem comece, é impedir a farra para que o animal nem passe por todo aquele horror — disse.

Em 13 de março deste ano, completou 20 anos que a farra do boi foi proibida e é considerada crime. A punição para quem participa é de três meses a um ano de prisão, além de multa. Mesmo assim, a prática é registrada todos os anos no período da Quaresma, que antecede a Páscoa.

Continua depois da publicidade

Para Bárbara, deveria ter mais investigações para identificar não só os participantes, mas principalmente, aqueles que fornecem e compram o boi para a farra.

— Se houvesse uma investigação para descobrir quem são os participantes diretos, quem compra o boi, daria para chegar ao fornecedor e punir todo mundo. Quem fornece sabe que está vendendo um animal para ser massacrado, torturado, humilhado. Deveria ter uma punição, apesar de a nossa lei ser branda, se houvesse uma punição, isso já teria um caráter educativo para a pessoa entender que maltratar animais é crime.

Maria Helena Machado, presidente da Comissão de Direitos Animais da OAB/SC, explica que antes da farra, os responsáveis deixam o boi sem comida, sem água e deixam três, quatro dias o boi trancado. Isso faz com que o animal fique nervoso e saia correndo na hora em que é solto.

Continua depois da publicidade

— A farra do boi pode ser considerada uma barbárie. As pessoas que vão para a farra vão expandir sua agressividade sobre o indefeso, que nada fez contra ela, é uma covardia. Isso não é cultura, são maus-tratos em que as pessoas estão morrendo. Em um ano, dois homens morreram.

Mudança quanto ao abate dos animais

Até o ano passado, todo animal que participava da farra do boi era capturado pela Polícia Militar ou pela Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc). O presidente da Cidasc, Enori Barbieri, informa que a companhia fazia uma espécie de vaquinha para conseguir atender as ocorrências, laçar, transportar e abater o animal.

— Não existe nenhuma rubrica orçamentária para cobrir a farra do boi, porque isso é um crime. Mas chegava na hora, ninguém queria fazer nada e a Cidasc, diante da cobrança da sociedade, sempre se dispôs. Como tínhamos um caminhão, achávamos um laçador e um motorista para fazer esse serviço e tínhamos que fazer uma vaquinha para pagar.

Continua depois da publicidade

Desde o ano passado essa situação mudou. O Ministério Público de Santa Catarina enviou um ofício para todos os municípios determinando que as prefeituras fiquem responsáveis pela captura do animal. De acordo com Barbieri, só após o recolhimento do boi, o veterinário da Cidasc vai até o local e faz uma investigação para saber a procedência do animal e identificar qual é o risco sanitário que ele oferece. Se o animal oferecer risco, ele é abatido, caso contrário não.

A Prefeitura de Florianópolis informou que está viabilizando a estrutura para o colhimento dos animais.

Já a Polícia Militar informou que só vai divulgar dados sobre a farra do boi após a Páscoa. Segundo a Polícia Civil, ninguém foi preso este ano em decorrência da farra do boi.

Continua depois da publicidade

Leia outras notícias da Grande Florianópolis