Era setembro do ano passado e Ronaldinho fazia um de seus primeiros treinos no Querétaro. Willian, ex-Palmeiras, não alcançou o lançamento longo tentado pela estrela. Ao retornar para seu campo, o atacante ouviu o conselho de um companheiro:

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Ronaldinho Gaúcho é chamado de “Robaldinho” no México

– Mesmo que ele não esteja olhando pra ti, segue correndo que a bola vai chegar.

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Apesar do alerta, os passes sem olhar, uma marca de Ronaldinho, foram raros nos sete meses de futebol mexicano. O brilho tem sido de vagalume. Mais frequentes são as notícias de noitadas, polêmicas e boatos de uma possível transferência do ex-melhor do mundo.

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Ronaldinho sai do banco e dá assistência em vitória do Querétaro

A vida do meia criado no Grêmio é, ao mesmo tempo, tranquila e turbulenta. A calmaria ele encontra no luxuoso condomínio “El Campanario”, onde mora em uma mansão alugada, avaliada em R$ 30 milhões. Ao lado de familiares e amigos trazidos do Brasil, escapa do assédio. No pátio, pediu autorização ao proprietário para fazer uma quadra de futevôlei, onde passa as horas entre um treino e outro.

Mas enquanto relaxa, as bancas de jornal de Santiago de Querétaro estampam manchetes negativas a seu respeito para os pouco mais de 800 mil habitantes da cidade. O novo lar é um dos motivos de críticas, já que, de acordo com a imprensa mexicana, é alugado com recursos do clube.

As polêmicas viraram rotina para o camisa 49 dos Gallos Blancos, que ocupam a 15ª colocação entre 18 clubes na Liga Mexicana. Logo que chegou, teve de aguentar ofensas racistas do ex-secretário de governo Treviño Nuñez. Irritado com o engarrafamento formado no dia em que a cidade parou para receber o jogador, Nuñez foi ao Twitter vociferar contra o “macaco” que causou a comoção. Foi o último dos imbróglios em que “Dinho”, como os mexicanos o chamam, teve papel de vítima.

Na virada do ano, depois de vir ao Brasil de férias, demorou a retornar para a pré-temporada. O clube explicava que o atraso era por “motivos pessoais”, até que o presidente, Joaquín Beltrán, perdeu a paciência. Em entrevista à rádio Imagen, mostrou irritação ao comentar a ausência do craque: “ninguém está acima da instituição”, afirmou à época.

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Ronaldinho voltou, mas os problemas continuaram. O jornal “El Universal” publicou fotos em que aparece na noite de Cancún, com um copo na mão, abordando diferentes mulheres. Nada de escandaloso, mas o suficiente para engrossar o caldo dos questionamentos, temperado pelo fraco desempenho em campo.

A imagem se desgasta ainda mais a cada boato de que o meia está de malas prontas. Há o interesse do futebol norte-americano, além do sonho declarado do milionário Bento dos Santos Kangamba de levá-lo a Angola para atuar pelo Kabuscorp.

– Falta paciência às pessoas. Elas criticam, mas ele ainda está em um início de projeto. Fizemos um contrato de dois anos – defendeu, no início do ano, o irmão e empresário Assis a ZH.

O retorno financeiro do craque

Há quem questione o valor gasto pelo Querétaro para trazer e manter a estrela, mas não há como contestar o retorno financeiro. Mesmo que o desempenho passe longe dos tempos de Barcelona, seu prestígio ainda é gigantesco. E vende.

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Os quase R$ 5 milhões do contrato por dois anos, somados aos R$ 200 mil adicionais que ganha por mês, são insignificantes quando comparados aos R$ 21 milhões arrecadados pelo Querétaro em venda de camisas, só nos primeiros três meses do jogador. Neste mesmo período, a média de público nos jogos em casa cresceu de 22 mil para 30 mil por jogo.

Quando atua fora, o Querétaro também percebe o “efeito Ronaldinho”. A idolatria se nota ainda mais quando enfrenta equipes de cidades pequenas, que lotam estádios sedentas por ver de perto o sorriso icônico e, com sorte, algum momento de brilho que lembre seus melhores dias.

* ZH Esportes