Não é de hoje que fãs se sentem donos de filmes, livros e bandas. Mas a recente onda de protestos online contra a escolha do novo Batman e dos atores da adaptação para o cinema do best-seller 50 Tons de Cinza mostrou o quanto a internet pode potencializar as reclamações e fazer a revolta chegar quase instantaneamente à mesa de quem manda.

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A questão é o quanto as queixas serão ou não ouvidas pelos produtores.

Protestos na rede: lembre reclamações que surtiram efeito e reivindicações que não deram em nada

O barulho normalmente começa no Twitter. Tão logo Ben Affleck foi anunciado como o novo Homem-Morcego das telas, a hashtag #BetterBatmanThanBenAffleck chegou aos trending topics, enumerando atores que interpretariam o herói melhor do que ele. Em seguida, uma petição organizou a revolta. Apoiado por quase 92 mil usuários, um abaixo-assinado foi feito por meio do site Change.org, que surgiu originalmente como ferramenta para que cidadãos formalizassem reivindicações políticas, mas acabou abraçando outras causas. No mesmo espaço, outro fã decepcionado puxa o coro contra a pouco conhecida dupla de atores Charlie Hunnam e Dakota Johnson, recém-anunciados como o casal da saga erótica 50 Tons de Cinza, de EL James. O abaixo-assinado pede Matt Bomer (das séries Chuck e White Collar) e Alexis Bledel (de Gilmore Girls) nos papéis principais e já soma 75 mil assinaturas.

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Na era pré-internet, as cartas de fãs indignados levavam dias para chegar ao destino e não alcançavam a mesma repercussão global obtida hoje, quando os descontentes podem meter a boca no trombone nas redes sociais – e no calor da hora.

– Hoje, é muito mais factível e fácil protestar. Além do mais, as pessoas sabem que as marcas estão monitorando e escutando as redes sociais, sentem que têm algum poder de decisão. De fato, elas têm. No caso do Batman, não, porque já foi escolhido. Já no caso dos 50 Tons de Cinza, certamente os produtores vão prestar atenção – avalia o jornalista e professor de Comunicação Digital da PUCRS Marcelo Träsel.

Repetidas vezes, a pressão dos fãs tem surtido efeito. Marcelo Forlani, criador e diretor de mídias sociais do Omelete, site especializado em conteúdo nerd, diz que, apesar de muitas vezes a gritaria online parecer uma grande piada, as reivindicações são levadas em conta pelas grandes produtoras:

– É possível conseguir o que se quer com petições e protestos, desde que o outro lado esteja interessado em agradar ao seu público fiel.

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O quadrinista Rafael Albuquerque, que já desenhou personagens superpopulares como Batman e Superman, conta que a pressão é grande:

– Sempre vai ter gente que gosta mais ou gosta menos do que você faz. Mas acho que fazer qualquer coisa preocupado apenas em agradar aos fãs pode ser frustrante para o criador. Os produtores sabem o que querem, fazem pesquisas com o público.

Os fãs do jogo Mass Effect tiveram suas exigências atendidas. Reclamaram do final produzido para o game e conseguiram que a produtora lançasse uma extensão, com conteúdo extra (veja mais exemplos).

Mas também não faltam casos em que os internautas insatisfeitos queimaram a língua. Quando Heath Ledger foi anunciado no papel do Coringa, no filme Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008), multiplicaram-se críticas em fóruns sobre cinema e quadrinhos – usuários lembravam o papel do ator na comédia romântica 10 Coisas que Eu Odeio em Você, diziam que ele era muito jovem para o personagem e sugeriam outros nomes para o elenco – como no caso de Ben Affleck. Hoje, o Coringa de Ledger é considerado um dos vilões históricos do cinema.

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