O número de brasileiros interessados em votar nas eleições presidenciais tem caído ao longo dos últimos anos. No primeiro turno de 2006, 16,75% do eleitorado no país (cerca de 21 milhões de pessoas) não foram às urnas; já na última votação para presidente, a abstenção chegou a 20,33%, pouco mais de 29,9 milhões de pessoas.

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Se somado, o número dos que ficaram em casa com os de votos brancos e nulos totaliza 40,2 milhões de brasileiros, o que mostra que a segunda escolha mais comum diante das 13 candidaturas de 2018 foi justamente não escolher ninguém. O número só ficou atrás do volume de votos de Jair Bolsonaro (PL), tanto no primeiro quanto no segundo turno.

O fenômeno se repete também em Santa Catarina. Há 16 anos, no pleito que reelegeu Lula (PT), 13,92% dos catarinenses aptos a votar (580.322) preferiram se abster ainda no primeiro turno. Já em 2018, a abstenção também na primeira etapa da corrida eleitoral para a Presidência da República subiu para 16,25% (823.934 pessoas).

O crescente desinteresse do eleitorado também tem se manifestado até entre quem vai às urnas, mas não necessariamente para endossar candidato algum, principalmente nas votações de segundo turno. Em 2006, 6,04% dos brasileiros que votaram na disputa então restrita a Lula e Geraldo Alckmin (PSB), o equivalente a 6,1 milhões, optaram por branco ou nulo. Já no segundo turno entre Bolsonaro e Fernando Haddad (PT), esses eleitores representaram 9,57% dos votantes, mais de 11 milhões de pessoas.

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Em Santa Catarina, o volume de votos brancos e nulos somados tem crescido ao menos desde 2010, quando representou 4,89% dos votantes (184.222). No segundo turno da última eleição, isso chegou a 7,36%, o equivalente a 310.568 catarinenses.

Há a expectativa de que isso possa se aprofundar nas eleições de 2022. A pesquisa Ipec mais recente, da última segunda-feira (12), indicava que ao menos 6% dos entrevistados votariam branco ou nulo. Já o Google havia identificado na última semana que a pergunta relacionada a política que teve maior aumento no número de buscas, de 3.100%, em relação aos sete dias anteriores era “como anular o voto nas eleições?”.

O processo de afastamento das urnas está relacionado ao acirramento da polarização no país, que intensificou também discursos violentos, e, principalmente, ao aumento da desconfiança nas instituições, fenômeno alimentado pelos seguidos escândalos de corrupção da última década, segundo avalia Daniel Pinheiro, especialista em cultura política e professor da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).

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— Com a desconfiança, você perde também a credibilidade, começa a pensar que as instituições não funcionam. Um discurso que era muito mais ideológico, de que nada do Estado funciona, passa a ser algo próprio da população em geral. Você começa a não se envolver com as eleições e também com a política no dia a dia — diz Pinheiro.

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Ele afirma que, justamente em resposta a isso, tem empenhado um projeto de extensão universitária em educação e cultura política para recuperar o interesse no tema.

Já o cientista político Eduardo Guerini, professor da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), acrescenta que esse desalento eleitoral tem sido marcado, além da polarização, pela distância cada vez maior entre os desejos da sociedade, os programas dos partidos e o que os políticos eleitos efetivamente executam em seus governos.

Ele também afirma que o distanciamento das urnas indicam a necessidade ser discutido o voto facultativo no país e o parlamentarismo, em substituição ao modelo atual. 

— A tendência é que esse desalento aumente, por falta de percepção política de partidos e de seus representantes em fazer uma reforma política, e não uma eleitoral, que atenda os interesses e demandas da sociedade — analisa Guerini.

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