Em uma das últimas mesas da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), o poeta sírio Abud Said provocou vaias e foi alvo de xingamentos da plateia. O escritor se recusou a falar sobre o Estado Islâmico e fez críticas ácidas a representantes dos direitos humanos. A programação da Flip termina neste domingo, no Rio de Janeiro.
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Said dividiu a mesa com Patricia Campos Mello, jornalista da Folha de S. Paulo especializda em coberturas no Oriente Médio e que já esteve em países como Síria e Iraque. No início da palestra, o poeta conquistou aprovação do público explorando uma atitude provocadora entre o cínico e o modesto. Disse que estava muito feliz pela presença em Paraty justamente por não estar sendo cobrado a falar da situação política de seu país.
— Ontem, por exemplo, passei três horas em uma sauna tomando vinho. Isso é maravilhoso — brincou.
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Aos poucos, o moderador Daniel Benevides foi tentando encaminhar a conversa para os assuntos do Oriente Médio. Ao ser perguntada se não sentia medo ao visitar países em situações de conflito, a jornalista Patricia afirmou:
— Não tenho o direito de ter medo. Porque eu vou lá, passo umas semanas, e volto. Isso não é nada perto das pessoas que de fato vivem lá. As pessoas com quem falo vivem lá. O Abud vive lá.
Mais para o fim da palestra, o moderador questionou Said sobre declarações recentes nas quais o poeta e escritor teria dito que era necessário compreender um pouco mais o Estado Islâmico, ao que o escritor respondeu:
— Não quero entrar nessa, não posso falar sobre isso. O que os jornalistas falam são experiências individuais, que não tem relação com a realidade. Mas gostaria de expressar uma coisa. O Estado Islâmico é um assunto muito importante. Os jornalistas que escrevem sobre isso não sabem muito bem a realidade. Os jornalistas, a mídia, a ONU, os trabalhadores que lidam com direitos humanos, todos estão fazendo jogo sujo. Acho que essas pessoas que são as verdadeiras doentes, que precisam achar alguém que as trate.
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Ao final, a declaração foi recebida com alguns aplausos, mas as vaias foram dominantes. Said ainda comentou que não gostaria de ser visto como um porta-voz da questão, que era um escritor e estava em Paraty para falar sobre sua obra. Mas, a essa altura, já partiam da plateia mais vaias e gritos de “babaca”.