Transformado em realidade por meio de um financiamento coletivo pela internet que mobilizou 202 apoiadores, o livro “Trapaça”, quarta obra do poeta blumenauense Marcelo Labes, 32, será lançado oficialmente hoje à noite. O escritor conversou com o Santa sobre o processo de criação e publicação do livro.

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Trapaça é uma coletânea de poemas que você escreveu nos últimos anos. Como foi o processo de seleção dos que encontrariam o papel? Foram escolhidos só por você?

Antes mesmo de lançar a campanha, os poemas já haviam sido selecionados. Coletei dentre tudo aquilo que havia escrito (e publicado na internet), os poemas que não fossem tão pessoais – por conta da dimensão social que a poesia precisa ter numa publicação -, mas ao mesmo tempo escolhi poemas que falassem dessa condição de trapacear a vida e as trapaças da vida. No fim, a gente tá sempre passando a perna nas pernas que a vida passa na gente. Então, quando já tinha a seleção, enviei pra alguns amigos e leitores assíduos, para que lessem e dissessem do que gostavam e não gostavam. Luiza, minha companheira, teve parte fundamental nesse olhar de fora: como mantenho muita proximidade com os poemas, coube a ela o aconselhamento, já que de muito perto os processos culminaram nos poemas que se seguem no livro.

Por que você escolheu o financiamento coletivo para bancar o livro?

Logo depois de publicar O Filho da Empregada, junto à segunda edição do Porque sim não é resposta (livros anteriores do autor lançados em formato de revista), ali por abril de 2016, decidi que ia lançar um livro-livro, em brochura, porque já começava a perceber as limitações das publicações econômicas, que não têm o mesmo espaço em bibliotecas e livrarias, apesar de ser barato enviar pelos correios, por causa do peso. A ideia inicial era lançar um livro, mas me perguntei: e daí se meu livro for publicado? Difícil não é publicar, é ser lido, ter o livro reconhecido no meio de tantos outros livros numa livraria, numa estante. Com o financiamento, a campanha não somente arrecadaria o dinheiro, como o público daria seu aval para esta publicação: se não alcançasse a meta, perceberia que não era o momento de ter um livro novo no mercado. Mas como atingimos (e ultrapassamos) o valor necessário, percebo que era sim o momento de Trapaça vir ao mundo.

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Pelo formato da publicação (qualidade do material, impressão, design, etc) e a divulgação prévia na internet por conta do financiamento coletivo, dá para considerar Trapaça como a sua principal obra até hoje?

O livro só existe enquanto tal depois de ser lido. Houve sim uma divulgação importante; houve um trabalho muito atencioso da Andréia Peres e da Fabi Cenci (que fizeram, respectivamente, os desenhos e o design gráfico) na produção do material – que ficou lindo e com uma qualidade superior; a editora Oito e Meio é uma das maiores divulgadoras de escritores jovens no cenário nacional, e ainda há isso de Trapaça ser lançado ao mesmo tempo em que é entregue para os seus mais de 200 apoiadores, em 10 estados brasileiros. No entanto, ainda é cedo pra falar da obra em si. Só depois de ter sido lido é que poderemos apontar sua importância para as pessoas e para a literatura.

Por que o nome Trapaça?

Este foi um ano de muitos golpes, e não apenas na política. A vida e os (des)caminhos das coisas, penso, as trapaças com que a vida nos presenteia, como lidar com isso? Falo de perda, de saudade, do que poderia ter sido e nunca chega a ser, de fato. Sempre me resolvi no texto. Acho mesmo que é no texto que vivo mais plenamente. Trapaça, o livro em si, tem a ver com isso, porque o livro acabou me servindo de suporte num momento em que eu pensava somente na perda, nas perdas, e ignorava tudo aquilo que permanece, que deve permanecer.

O que o leitor que não conhece Marcelo Labes pode esperar dos poemas do livro?

Essa é uma pergunta que sempre me faço: por que as pessoas me leem, afinal? Há no livro uma continuidade do que me interessa na poesia, que é o surgimento dos poemas. Há a parte confessional, relacional, onde falo de amor tentando não ser piegas. Há os poemas que, penso, cabem sob medida em quem passou dos 30 anos, onde estabeleço relações com a memória. E há a confusão com a situação política atual, não somente no Brasil, mas com esse mundo em que tentam atear fogo com os fósforos molhados.

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Como tem sido a recepção do livro?

A parte mais bonita de todo processo, até agora, foi proceder a entrega dos exemplares. É quando o virtual assenta na realidade, porque o livro foi divulgado e apoiado na internet. Visitar estes apoiadores, entrar em suas casas, sentar para conversar sobre a publicação é muito bonito. No entanto, um livro demora a ser lido, e por enquanto ainda não sei exatamente o que meus leitores têm pensado sobre Trapaça.

Serviço

– Lançamento do livro “Trapaça”, de Marcelo Labes + sessão de autógrafos e shows de Malungo, Kxopa e Rafael BN

– Hoje, às 19h

– Cafundó Bar Cultural (Rua Pastor Osvaldo Hesse, 388, Ribeirão Fresco, Blumenau)

– Entrada gratuita e livro à venda por R$ 25