Ao receber o Prêmio Cervantes 2007, nesta quarta-feira, o poeta argentino Juan Gelman disse que a poesia “está de pé contra a morte” nestes “tempos mesquinhos e de penúria”. Em seu discurso, Gelman lembrou as mazelas do mundo e defendeu a limpeza do passado humano.

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O poeta recebeu o prêmio das mãos do rei Juan Carlos da Espanha, em uma cerimônia celebrada na Universidade de Alcalá de Henares e que coincide com o aniversário da morte de Miguel de Cervantes – também dia do Livro na Espanha. Diversas personalidades da cultura e da política, como o premier espanhol reeleito José Luis Rodríguez Zapatero, assistiram ao evento.

No discurso, Gelman lembrou as crianças que morrem de fome no mundo, as mortes no Iraque e em Hiroshima, assim como as 30 mil pessoas desaparecidas na ditadura argentina.

– Dizem que não se deve remoer o passado, que devemos olhar para frente e não reabrir as velhas feridas. Estão muito equivocados. As feridas não estão fechadas, seu único tratamento é a verdade. Há de se limpar o passado – disse o poeta argentino, nascido em Buenos Aires em 1930.

As palavras de Gelman emocionaram sua neta Macarena, cuja mãe continua desaparecida e cujo pai foi seqüestrado e assassinado pelas ditaduras do Uruguai e da Argentina, durante o Plano Condor de repressão dentro dos regimes militares do Cone Sul.

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O rei espanhol destacou em Gelman “seu vigor incomparável para lutar contra a adversidade” e o definiu como “um dos mais valiosos poetas dos últimos tempos”.