O poeta chileno Nicanor Parra recebeu nesta segunda-feira o Prêmio Cervantes de Literatura. A honraria foi entregue a um de seus netos em seu nome, uma vez que o poeta, de 97 anos, não teve condições de viajar à Espanha. A cerimônia de entrega da premiação, a mais importante da literatura espanhola, ocorreu na Universidade de Alcalá de Henares, nas cercanias de Madri.

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Os reis da Espanha não presidiram a solenidade, como ocorre habitualmente, em razão da convalescença do rei Juan Carlos, que sofreu cirurgia no quadril depois de uma polêmica viagem à África para caçar elefantes. Em seu lugar, os príncipes de Asturias, Felipe de Bourbon e Letizia Ortiz, foram encarregados de entregar o prêmio.

Cristóbal Ugarte, neto do autor, recebeu o prêmio das mãos dos príncipes e foi o encarregado de ler o discurso escrito por Parra.

– Os prêmios são como as Dulcineas del Toboso (a dama idealizada por Dom Quixote, na realidade uma camponesa analfabeta), quanto mais pensamos nelas, mais distantes e enigmáticas – leu Ugarte, ao lado de uma velha máquina de escrever na qual Parra escreveu numerosos poemas.

No balneário chileno de Las Cruces, Parra, ainda de pijamas, com um jaleco, um gorro e uma bengala, saiu cedo a comprar o jornal sem saber que, pela diferença horária, na Espanha seu neto já tinha recebido o Cervantes.

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Um jornalista da Rádio Cooperativa, que montava guarda diante de sua casa, contou-lhe detalhes da cerimônia e quando o antipoeta se deu conta de que o príncipe Felipe o qualificou de “rupturista”, afirmou:

– Boa a palavra do Príncipe.

A família do poeta o manteve distante da imprensa.

Parra é considerado o criador da chamada antipoesia. Além disso, é o único sobrevivente do trio mais famoso de poetas chilenos, com Pablo Neruda e Vicente Huidobro. É irmão da famosa folclorista Violeta Parra, já falecida.

O autor chileno começou a escrever poesia muito jovem, publicando seu primeiro livro, Cancionero sin Nombre, em 1937. Com o passar dos anos adotou uma linha denominada por ele mesmo de antipoesia, que acreditava ser a introdução da linguagem cotidiana na poesia tradicional. O exemplo mais surpreendente se observou na obra Poemas y Antipoemas, de 1954.

Em 1969, recebeu o Prêmio Nacional de Literatura do Chile por Obra Gruesa. Também foi contemplado com o Prêmio Internacional Juan Rulfo. Sua obra foi traduzida a muitos idiomas. É membro da Academia Chilena da Língua e da Fundação Gabriela Mistral.

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Parra sucede à espanhola Ana María Matute como ganhador do Cervantes, numa reafirmação da lei tácita que reparte alternativamente o prêmio entre um escritor latino-americano e outro espanhol.

O Cervantes, cognominado o Nobel da literatura espanhola, tem uma dotação de 125 mil euros (US$ 167,5 mil). Foi criado em 1975 pelo Ministério da Cultura da Espanha para reconhecer a figura de um escritor que, com o conjunto de sua obra, tenha contribuído para enriquecer o legado literário hispânico dos dois lados do Atlântico.

Entre os ganhadores, estiveram o peruano Mario Vargas Llosa, o cubano Alejo Carpentier, o argentino Jorge Luis Borges, o espanhol Camilo José Cela e o colombiano Alvaro Mutis.