A frente da investigação das ondas de atentados, o delegado Akira Sato, diretor da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), em Florianópolis, destaca a importância de condenação dos soldados do Primeiro Grupo Catarinense (PGC).

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Ele conversou com o DC na sexta-feira, em sua sala, na Deic. Confira os principais trechos da entrevista:

Diário Catarinense – Qual a expectativa sobre a condenação dos integrantes do PGC e o que ela significa?

Akira Sato – Para nós o importante é a finalização do ciclo de punidade. Houve toda uma investigação, seguida de análise profunda do Ministério Público, onde a denúncia corroborou com todos os elementos do inquérito policial.

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DC – Mesmo o fato de os principais líderes do PGC já serem condenados a penas muito altas?

Akira – Não só os que já têm penas altas, mas os que agiam como executores e intermediários, que estavam em regime semiaberto ou com pena de no máximo 10 anos. Saber que participar desse grupo, dessa agremiação, não é benéfico, não faz bem a eles porque podem vir a tomar penas de até cinco, 10, 15 anos por uma simples difusão de um salve, de uma mensagem para fins de colaborar com o grupo criminoso. Ou seja, duplicam o que tinham para cumprir.

DC – Isso retardará a liberdade?

Akira – Justamente, vai retardar a liberdade, regredir o regime prisional e por simples difusão de mensagem para atacar, seja órgãos públicos ou o próprio Estado. Essa é a finalidade do ciclo de Justiça: punir. Tem finalidade também pedagógica. Não tenha dúvida que é um golpe duro e outros que pensam em agregar nesse grupo já vão pensar duas vezes.

DC – Há provas que esses 98 réus do PGC estão envolvidos também com o tráfico de drogas?

Akira – O que foi angariado de prova é que toda a questão financeira, de manutenção de familiares e do dinheiro desses detentos vêm do tráfico de drogas. Conseguiu-se demonstrar que a facção depende justamente quase que exclusivamente do tráfico de drogas, além dos dízimos que são cobrados e das porcentagens em outras práticas de crimes.

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DC – Daqui em diante, a polícia atacará a facção pelo combate ao tráfico? Há policiais que falam que há necessidade de guerra permanente para combatê-la…

Akira – Não falo em guerra permanente. Vamos manter permanentemente investigações a respeito das ações que esses grupos vêm elaborando. É o caso desse último inquérito (em São José). Houve parceria muito grande do Ministério Público e Judiciário. A doutora Andréa da Silva Duarte (promotora) foi excepcional nesse sentido. O inquérito da Deise (da morte da agente penitenciária Deise Alves) também foi excepcional. A estratégia é trabalhar com diversos inquéritos menores, de forma capilarizada com as DICs (Divisões de Investigações Criminais) em conjunto com a Deic. Tivemos Criciúma, Araranguá, Tubarão, essa de novo da Deic, a de Itajaí, Tijucas e assim vamos agora também para Oeste e Meio-Oeste.

DC – Hoje os líderes estão no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). É a garantia que não voltarão a agir?

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Akira – Não. Justamente por isso que esse último inquérito buscou principalmente desarticular a reerguida desse grupo, bem como o contato, os intermediários de informações no Nordeste (Mossoró). Buscou-se esse descompasso, a quebra de informações e de comunicação que tinha com Mossoró. De forma permanente continuamos trabalhando em cima dessas informações para que não cheguem ou se chegarem que a gente consiga responder.

DC – Como vê a comunicação pelos presos ao celular que ainda continua?

Akira – É uma dificuldade que a gente observa, só não entende o fator funcional do equipamento. Oficiei o secretário-adjunto (Sady Beck, da Justiça e Cidadania). A gente vem trabalhando essa difusão das informações para que eles tomem as devidas providências. São diversos presídios que ainda possuem telefones, detentos falando a vontade, e claro que estão sendo apuradas também as responsabilidade, se houver, de servidores, facilitando a entrada desses aparelhos. A gente trabalha também com as hipóteses do funcionamento, do desligamento manual ou da não funcionabilidade dentro daquilo que se esperava desses aparelhos. A própria promotora Andréa solicitou a todos os promotores das Comarcas, aonde são mencionadas existências de celulares, para que ingressassem com as suas ações, investigações civis de improbidade administrativa para ver a razão pela qual os bloqueadores não estão funcionando.

DC – É preciso ação mais dura do Estado?

Akira – Não sei como está funcionando esse sistema. Mas eles continuam falando sim. E a cada momento em que a gente vem percebendo telefone dentro de presídio X, Y, Z, a gente passa a informar os administradores dos presídios.

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DC – O que ainda Santa Catarina precisa fazer para se evitar novamente a ação do crime organizado?

Akira – É uma questão que vem acontecendo em diversas unidades federativas do Brasil. O enfrentamento é permanente e no nosso entendimento é a punidade que vai contar, vai ser definitiva. É o que se busca e o que vai ter reflexo. Não é só ação da polícia Civil, Militar, é o tabuleiro completo, os presídios, as secretarias, a Justiça, o Ministério Público.

Infografia: clique na imagem para ampliar as audiências