Em meio à lista de pastores que fazem parte do programa do Congresso de Gideões Missionários, em Camboriú, nenhum nome é tão emblemático quanto o do deputado federal Marco Feliciano (PSC). Representante da ala mais conservadora do Congresso Nacional, o pastor que fala à multidão de evangélicos defende posições polêmicas como a redução da maioridade penal, afirma-se contra o casamento homoafetivo e a adoção de crianças por casais do mesmo sexo e se diz representante de uma parte do eleitorado brasileiro que não tem voz “porque trabalha muito”.
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Feliciano, que se apresenta neste sábado no palco dos Gideões, com direito a palhinha de seu novo CD (sim, ele também canta), recebeu O Sol Diário para uma entrevista exclusiva na quarta-feira, no hotel simples em que ficou hospedado durante o congresso evangélico.
Recém-chegado de Brasília, foi parado inúmeras vezes no caminho entre a recepção e o apartamento por fiéis, que fizeram questão de cumprimentá-lo.
Ao Sol Diário, falou sobre política, sexo e religião e admitiu: quer ser presidente.
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Confira a entrevista:
Seu eleitorado é o conservador ou o evangélico?
Os dois. Represento aqueles que dizem – eu queria falar o que ele fala, mas não tenho voz. Virei porta-voz da liberdade de expressão porque desafio qualquer pessoa a provar que sou intolerante, que tenho discurso de ódio ou que tenho feito ameaça a qualquer pessoa.
O brasileiro é conservador?
O Brasil, na sua grande maioria, é conservador. Só que é feito de conservadores silenciosos. Talvez falte a eles oportunidade de ter vez e voz porque trabalham muito, porque têm que cuidar da sua família, porque não cuidam da vida dos outros. Como eles não têm tempo, não se envolvem.
O senhor tem pretensões de ser presidente?
Quem fala que não tem é mentiroso. As eleições mostraram um novo quadro, nós temos a maior bancada conservadora da história desde 1964.
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Por que o senhor é contra a união homoafetiva?
Ser contra ou não é uma questão de foro íntimo. Alguns projetos estão na Câmara há 20 anos e não são votados porque não há consenso. Nunca passou pela Câmara o assunto da união homoafetiva.
Essa diferenciação entre hetero e homossexuais não vai contra o cristianismo?
Estou falando como deputado. Deputado não pode tocar em assunto de Bíblia. Como deputado meu livro de cabeceira é a Constituição Federal. Minha luta é por causa da Constituição. O artigo 226, parágrafo 3, foi estuprado pela Suprema Corte do nosso país e ninguém fala nada. É um assunto nojento.
Nojento?
Ninguém quer tocar no assunto da sexualidade. Isso é que falei de ser nojento, nada sobre preconceito, mas não é um assunto confortável. Sentei inúmeras vezes com a Marta Suplicy, que era relatora do projeto que criminalizava a homofobia. O texto deles diz que homofobia é preconceito. A pergunta que faço é como você mensura preconceito?
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O senhor não propôs a cura gay?
Nunca. Não existe cura porque não é doença. É um transtorno, um fenômeno comportamental. Se é transtorno, tem que ser estudado. Se há uma orientação sexual, pode haver uma desorientação sexual. Como pode haver uma reorientação sexual. Os ex-gays existem.
O senhor é a favor da redução da maioridade penal?
Precisa ser aprovada urgentemente. Não podemos usar outros problemas para evitar que se faça justiça.
Um vídeo que mostra o senhor pedindo a senha do cartão de crédito de um fiel, feito aqui no Gideões, viralizou na internet. Isso não é mercantilizar a fé?
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A maldade das pessoas não tem limite. Era um evento missionário. Uma pessoa, na hora da coleta das ofertas, jogou o cartão lá dentro. Li o nome da pessoa três vezes. E eu fiz uma brincadeira, porque também temos senso de humor. Doar o cartão sem doar a senha não adianta. Tanto é que todo mundo riu.