Conheço, pelo menos, dez sapatarias ativas em Itajaí. E conhecer significa, nestes termos, ter contratado os serviços delas – ou tentado. O apego a certos modelos – de bicos e saltos finos – me faz vasculhar a cidade para restaurar pares até a exaustão. E a alternância de fornecedor não se deve tanto à qualidade do reparo feito no calçado, mas especialmente à política comercial do estabelecimento – o trato pessoal, o contato e o respeito com o cliente.

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De certo ponto de vista, a prática pode ser sustentável, mas nem sempre é convidativa. Todas as sapatarias da cidade fecham as portas ao meio-dia para reabrir no início da tarde. O que me obriga a encarar o horário do rush, depois do expediente de trabalho, para me deslocar a uma delas, ainda que sob o risco de perder a viagem. Afinal, é comum o calçado não ficar pronto no prazo – e ninguém o avisar que o serviço vai atrasar.

Na semana passada, por indicação de uma amiga, resolvi ir a uma sapataria até então desconhecida. Atravessei dois bairros para chegar lá. Trânsito caótico. Disposição zero. Peguei a sacola no porta-malas para executar parte da tarefa. Eram cinco pares à espera. Entrei, e uma mulher de meia idade apareceu para atender. Tirei o primeiro par da bolsa e, já desmotivada, retirei o segundo e apoiei no balcão. Agradeci a atenção e fui embora com a bolsa cheia.

Talvez ela não estive em um dia bom, mas não lhe darei outra oportunidade. Além de não me poupar do tom grosseiro e da postura arrogante, deu-me munição suficiente para migrar para outra sapataria, divulgar a péssima experiência com o lugar e a convicção de que jamais retornarei àquele fornecedor. Déjà vu?

Talvez as sapatarias da cidade não precisem de novos clientes – nem de consertos menos usuais. Talvez sua clientela não costume escolher a cor da tinta que quer aplicar no sapato ou os botões capazes de substituir os originais da bolsa customizada. Fidelizar o cliente parece ser uma arma desconhecida. Bem diferente daquela aplicada para fazer reféns.

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