Da aproximação com o PSDB ao enfraquecimento da fidelidade da bancada no Senado, os sinais emitidos pelas diversas alas do PMDB são de que a convenção nacional do partido, neste sábado, será o início gradual do rompimento com o governo Dilma Rousseff.

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O encontro reelegerá o vice-presidente Michel Temer para o comando da sigla, que exerce desde 2001. Mas, ao começar desembarque do governo, os peemedebistas podem aproximar, também, Temer da Presidência da República: sem o apoio do PMDB, aumentaria o risco de impeachment de Dilma.

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O encontro, oficialmente, não prevê a votação sobre a debandada. Isso foi retirado estrategicamente da pauta para que o partido ainda possa ter ao seu alcance a opção de permanecer no muro: começar o rompimento liberando deputados e senadores de votarem com o governo, mas sem entregar os cargos.

A legenda comanda seis ministérios e pode recuperar a Aviação Civil, repassada à bancada de Minas Gerais.

Certeza é que os protestos contra Dilma na convenção serão ruidosos. Dezenas de parlamentares contrários à presidente devem discursar. A ideia é votar moção pela saída imediata do governo, com entrega dos cargos em 30 dias e punições para quem permanecer. Há documentos sendo redigidos pelos ex-ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha, ambos próximos de Temer, e também pela ala gaúcha, liderada por Osmar Terra e Darcísio Perondi.

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— Nossa posição é pela saída imediata, com entrega dos cargos. Não é possível apoiar um governo paralisado, que afunda o país na crise — afirma Terra.

Na Esplanada, os peemedebistas Kátia Abreu, ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e Marcelo Castro, ministro da Saúde, fazem coro para negar a possibilidade de afastamento do governo.

Diretório do Rio de Janeiro é esperança do Planalto

Outras posições são discutidas, com diferentes níveis de ação, que vão da permanência no governo com discurso de independência ao rompimento

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geral. A tendência é de que Temer segure os pedidos de saída, que poderiam ser aprovados nos próximos meses. Em seu discurso, o vice voltará a insistir na necessidade de pacificar o país e de apresentar projetos que fiquem acima dos partidos.

Uma boia de salvação de Dilma no PMDB continua sendo o diretório do Rio de Janeiro. Até agora, o líder da Câmara, Leonardo Picciani (RJ), mantém fidelidade ao Planalto. O Rio é importante por ter a maior quantidade de votos na convenção: 72. Os núcleos regionais mais alinhados ao Planalto somam 296 votos, contra 198 dos favoráveis à ruptura total. O problema é que, nos bastidores de grupos governistas, a tese do afastamento também cresce.

Outra esperança petista sempre foi o PMDB do Senado, comandado por Renan Calheiros (AL), mas, nos últimos dias, ele esteve com o PSDB e se reaproximou de Temer, com quem teve rusgas em 2015.

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ENTREVISTA

“Saída) não é assunto que será deliberado”, diz Leonardo Picciani, deputado federal pelo Rio de Janeiro e líder do PMDB na Câmara

O PMDB deve deixar o governo Dilma?

Não é assunto que será deliberado na convenção. Vamos discutir o papel do PMDB no atual cenário do país, como o partido pode fazer para ajudar a superar este momento. O PMDB tem é que fazer uma discussão para ser protagonista e se preparar para 2018.

O diretório do Rio de Janeiro segue contrário ao impeachment?

Segue coeso contra o impeachment.

A bancada do PMDB no Senado começou a se afastar do governo?

Não tenho notado esse afastamento do PMDB no Senado. O que há é uma preocupação com o ambiente econômico.

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Se for mantido o rito definido pelo Supremo, o senhor indicará favoráveis e contrários ao impeachment para as vagas do partido na comissão?

Vamos nomear pela conversa. Queremos fazer indicações para nossas oito vagas conforme o tamanho de cada posição, contra e a favor, contemplando todos.

Impeachment passaria hoje na Câmara?

Creio que não teria os votos suficientes.

“Independência é com a entrega de cargos”, diz Valdir Raupp, senador pelo PMDB de Rondônia

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O PMDB deve deixar o governo Dilma?

Defendo essa tese, não dá mais. Se o partido está defendendo uma candidatura própria em 2018, tem de sair do governo. Continua apoiando nas matérias e reformas importantes, por uma questão de responsabilidade, mas fica liberado desse atrelamento ao governo.

Ao sair, o partido entregaria os ministérios e os demais cargos?

Independência é com a entrega dos cargos. Sem entregá-los, não é independência. A convenção tem propostas diversas, como a tese do rompimento total, que não é muito boa para o país. O vice-presidente é do PMDB, temos responsabilidades.

A bancada do PMDB no Senado começou a se afastar do governo?

Tem aumentado esse movimento. Tenho dito o seguinte: o governo tem de cuidar lá na Câmara o processo de impeachment. Se passar lá, vai ser difícil segurar no Senado.

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Aproximação com PSDB trará aliança?

Não fui à reunião dos senadores do PMDB com os do PSDB. Os partidos sempre conversaram, o que não significa que virá uma aliança.