Um policial militar catarinense foi filmado nesta quarta-feira (18) espirrando um spray de pimenta à queima-roupa no rosto de um casal de moradores do Morro do Mocotó, em Florianópolis. A ação ocorreu quando um grupo de policiais era contestado pela vizinhança sobre a abordagem a uma casa da comunidade, onde a PM cumpria um mandado de busca e apreensão da Operação Lado B, de combate ao tráfico de drogas na Capital. As vítimas atingidas pelo spray não eram alvos da operação.

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A Polícia Militar catarinense (PMSC) comunicou, em nota ao NSC Total, entender que os policiais agiram de forma necessária na ocasião para afastar as pessoas que tentavam dificultar a ação da guarnição (leia mais abaixo sobre a operação e sobre o que diz a corporação).

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Um vídeo da cena mostra, em um primeiro momento, moradoras exaltadas contestando a atuação policial e sendo impedidas por um agente de entrar na residência. Uma delas afirma que os policiais não teriam mandado para realizar a ação, o que a PM negou, também em nota à reportagem.

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Há ainda pessoas mais distantes, que não tentam adentrar na casa, mas também questionam a operação. Parte delas filma a abordagem, quando chega então um segundo grupo de mais cinco policiais para prestar apoio. Um dos reforços dá um soco no rosto de um morador logo de início, ao ordenar que ele se afaste, e é empurrado de volta.

Esse mesmo agente se aproxima então de uma moradora que filmava a abordagem de longe e determina que ela se afaste do local. A mulher se encosta em um muro, ainda com o celular na mão, abre os braços e questiona o motivo de ser tocada pelo PM.

— Estás tocando em mim por quê? Estás tocando em mim por quê? Eu sou mulher, eu sou mulher — diz a moradora.

— Se afasta, por razões de segurança — responde o policial.

Um outro policial se aproxima com um spray de pimenta e entrega ao colega que protagonizava a discussão. Ele espirra então o produto no rosto da vítima, que vai ao chão.

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O morador que já havia sido agredido no rosto se revolta com o policial, empurra uma outra moradora que tentava contê-lo e afirma que a mulher atingida pelo spray é sua companheira. O mesmo agente que havia feito uso do aparato espirra então mais uma vez o produto, desta vez no homem indignado.

O morador atingido pelo spray se afasta então da casa em que ocorria a abordagem. Já a mulher permanece sentada, com falta de ar.

— A senhora desobeceu uma ordem — diz o policial à moradora ainda no chão. Uma outra mulher aparece então e xinga ele, em contestação ao uso do spray.

À reportagem, o homem atingido relatou que a esposa passou mal e que ainda tentava se recuperar do ocorrido ao longo do dia, quando chegou também a desmaiar. Disse ainda que ambos acompanhavam a ação policial para tentar retirar crianças que estariam na residência.

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— Nós estavamos em casa e escutamos aquele berreiro […] Saímos dentro de casa para ajudar essas crianças e quando chegamos ali tinha muito spray de pimenta no ar, muita gente com coceira. Estávamos só esperando a liberação do policial para pegar as crianças […] A minha esposa estava indo lá pegar, mas chegou essa guarnição fazendo o que fez e sem motivo — pontua o homem que não quis se identificar.

Já a mulher alega que não recebeu ajuda depois de ser atingida com o spray de pimenta:

— Eu só senti que ia apagar porque cai no chão e ele [o policial] não deixou ninguém me socorrer e ficou em cima de mim o tempo inteiro. Minha cunhada queria chamar a ambulância e ele disse “não chama a ambulância, chama o 190, debochando”.

Ambos fizeram boletim de ocorrência após a ação. O homem alega que situações como essa acabam deixando a comunidade insegura com a ação da polícia.

— Toda a vez que eles vêm no morro, eu me sinto inseguro. Por ser trabalhador é para a gente se sentir seguro, por estar ajudando a pagar o salário. Mas agora eu vou me sentir ainda mais inseguro por estar acontecendo isso na minha vida […]. O tratamento policial tem que mudar, tem que saber que quem é trabalhador tem que ser respeitado — finaliza.

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Confira o vídeo da ação

Advogado vê truculência desnessária

Ao NSC Total, o advogado Rodrigo Alessandro Sartoti, presidente da Comissão de Direitos Humanos da seccional catarinense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SC), configurou a atitude como uma truculência desnecessária da PM , de quem se espera o uso moderado e progressivo da força.

“Tenho certeza de que esse tipo de truculência e violência desnecessária nunca serão vistos nas áreas consideradas ‘nobres’ da cidade. A Polícia serve para garantir a segurança de todos nós, não para violar direitos. É preciso que o governo do Estado apure as condutas dessa operação”, afirmou Sartoti.

PM diz que uso de spray foi necessário

Também ao NSC Total, a PMSC comunicou que nenhuma residência foi invadida ao longo da operação, que não houve agressão alguma, embora um agente tenha sido filmado dando um soco no rosto de um morador, e que os policiais agiram de forma necessária para afastar quem dificultavam sua atuação.

“Uma mulher foi presa no Morro do Mocotó por desacato, desobediência e resistência e conduzida a delegacia da Polícia Civil, com a apreensão de uma arma de fogo”, escreveu a corporação.

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A Polícia Militar afirmou ainda que houve troca de tiros de alguns homens com os policiais durante a ação, o que exigiu um cuidado ainda maior com a comunidade.

“Assim sendo, salientamos que foi uma operação policial, em área de risco que tem a ação de facções criminais, na qual foram cumpridos os devidos mandados e que resultou em grande apreensão de drogas”, escreveu, também na nota.

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Operação Lado B cumpriu 30 mandados

A Operação Lado B foi coordenada pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE/DEIC), vinculada à Polícia Civil, e cumpriu 30 mandados de busca e apreensão na Grande Florianópolis no combate ao tráfico de drogas. A PM prestou apoio com policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do 4º Batalhão de Polícia Militar (BPM), da região central da Capital.

Foram apreendidos ao longo dos trabalhos 310,9 quilos de maconha, 3,4 quilos de haxixe, 3,4 quilos de ecstasy (aproximadamente 10.000 comprimidos), 210 gramas de cocaína, 116 gramas de MDMA, 420 gramas de skunk e dez pés de skunk.

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Além disso, também foram recolhidos armamentos e instrumentos utilizados pelo tráfico: 521 munições de 9mm, 282 munições .40, uma munição .45, 16 munições .380, 31 munições de 7.62 mm, quatro munições de 5.56 mm, uma máquina de contar dinheiro, 16 balanças de precisão, um colete balístico com placas, 12 radio comunicadores, uma seladora a vácuo, um medidor de umidade, oito carregadores de pistola, um kit roni, cinco porta carregadores, uma capa de colete balístico, um case de pistola Taurus, cinco pochetes/bolsas, e 62 piteiras para cigarro eletrônico com canabidiol.

A investigação que culminou na operação teve início em 2019, quando uma organização criminosa voltada ao tráfico de drogas na Capital foi alvo da Operação Lado A. Naquela primeira ocasião, foram apreendidos de mais de R$ 3 milhões em espécie e 71 quilos de cocaína. Também foi o recolhido o celular de um dos “gerentes” do morro, o que desencadeou os mandados da Lado B.

As investigações identificaram diversos crimes atribuídos à quadrilha, segundo a Polícia Civil, como três homicídios, lavagem de dinheiro e porte/posse ilegal de arma de fogo, além de tráfico de drogas.

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