Com a prisão de oito pessoas por tráfico de drogas no Morro do Horácio nesta segunda-feira, em Florianópolis, a Polícia Militar (PM) espera enfraquecer uma série de crimes que rondam a comunidade e também os bairros próximos, como Agronômica, Trindade e Carvoeira.
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A segunda ocupação de um morro em menos de duas semanas em Florianópolis – a primeira foi no dia 25 do mês passado, no Morro da Caixa, no Continente – envolveu mais de 150 policiais militares e civis.
O alvo principal foi o ponto conhecido como da lixeira, na Rua Antônio Carlos Ferreira. Houve observação do local durante 60 dias por policiais do 4º Batalhão da PM. Há filmagens do comércio de drogas.
Com a participação do Ministério Público, o monitoramento resultou em 16 mandados de prisão preventiva e 20 de busca e apreensão expedidos pela Justiça.
A operação durou cerca de 2h30min. Policiais da Delegacia de Combate às Drogas da Polícia Civil também participaram. As equipes se concentraram por volta das 5h e a partir das 6h começaram a cumprir os mandados. A PM permanecerá no Horácio com blitze, abordagens e barreiras.
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O comando do 4º BPM afirma que entre os alvos estão gerente, vendedores e olheiros do tráfico e espera com as prisões reduzir o número de assaltos no entorno do Horácio. A PM diz ter verificado a participação de envolvidos na venda de drogas também em roubos e em enfrentamentos à própria polícia.
Assim como no Morro da Caixa, a suspeita da PM é que a facção Primeiro Grupo Catarinense (PGC) esteja por trás do comando do tráfico de drogas nos pontos.
A polícia divulgou que foram presos Andre Moura dos Santos “Deco”, Olindina Regina dos Santos, João José Junior, Elidiane Brasilino da Silva, Juliano Ferreira dos Santos, Djony dos Santos e Carlos Roberto Tomaz. O DC não teve acesso aos presos nem aos seus advogados.
ENTREVISTA: Tenente-coronel Araújo Gomes, comandante do 4º BPM
Diário Catarinense – Tivemos recentemente ocupação no Morro da Caixa (Continente). Qual é a dimensão do tráfico nessas comunidades e o que provoca?
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Araújo Gomes – A gente vem percebendo crescimento do mercado consumidor e a demanda por droga e com isso tem notado na inteligência o fortalecimento de pontos tradicionais e o aparecimento de novos pontos de vendas. Os pontos do Maciço, por questão geográfica, sempre desempenharam e ainda desempenham papel importante no tráfico de drogas da cidade, estão próximos aos mercados consumidores, têm uma territorialidade que torna difícil a ação da polícia e têm algumas questões da comunidade que ajudam a proteger as ações ilegais do tráfico.
DC – O senhor apontou que um desses líderes presos viria causando temor à polícia e aos moradores. Até que ponto o domínio é do crime nos morros?
Gomes – Na verdade não um temor da polícia, mas percebemos o acirramento do enfrentamento e isso disparou uma luz vermelha, um alerta para nós. Criminosos cada vez mais violentos acabam criando um comportamento cada vez mais individualista nas comunidades, que denunciam menos.
DC – A comunidade do Horácio é refém do tráfico?
Gomes – Não exatamente refém. Eles têm uma relação de amor e ódio. Uma boa parcela depende do dinheiro do tráfico ou indiretamente como a venda de lanches, a circulação de dinheiro na comunidade. Muitos dependem da atividade ilegal, os filhos são olheiros, vapores do tráfico e colaboram com a renda familiar. Muitos são neutros, não ganham, não perdem e não se metem e alguns gostariam de se meter, mas não o fazem por medo.
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DC – Qual a dimensão da existência de facções nos morros?
Gomes – Temos um grupo de inteligência que atua nisso. O Deco, que prendemos, estava lá a mando e representando o PGC.
DC – Há essa teoria de que a polícia ataca o tráfico e o crime vai para o assalto. Procede a lógica?
Gomes – A gente encontra, sim, lógica de deslocamento, geográfica e de modalidade. Ou quando há grandes perdas, apreensões, ou quando tem queda de vendas ou estabilização de mercado e as armas passam a ser capital parado. E aí são usadas para fazer dinheiro novo nos assaltos. Diferente do que era até dois anos atrás, temos encontrado essa mistura, de pessoas subalternas do tráfico praticando assaltos.