Um loteamento com 167 terrenos, a uma quadra do mar, de frente para a baía da Babitonga, com acesso asfaltado e a menos de um quilômetro do Porto de Itapoá, no Litoral Norte, deve se transformar em motivo de protestos e conflitos jurídicos acirrados nos próximos meses.

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A área _ que, além de poucas casas, tem mata nativa e plantações de banana, batata e mandioca _ pode se transformar num novo bairro ao lado do porto.

O primeiro capítulo começou há mais de 30 anos, quando as famílias de pescadores e uma construtora de Curitiba fizeram um acordo de uso mútuo da área. Nesta terça-feira, por ordem do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, uma parte da área foi reintegrada à Construtora Polo Ltda.

Duas retroescavadeiras foram acompanhadas pela Polícia Militar e por um oficial de justiça até a área e começaram a demolição de um galpão e a abertura de um acesso para terraplenagem dos lotes. O galpão era usado como galinheiro e as aves foram retiradas no começo da manhã. A outra área, que estava cercada, foi aberta pela máquina e a terraplenagem foi iniciada.

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Segundo o representante da construtora, Ioanis Joanidis, é do interesse imediato do grupo garantir a infraestrutura da área para que ela seja comercializada.

_ Há um interesse natural por essa região. E a construtora está colocando seus projetos em execução. A decisão da Justiça garante o direito da empresa _ disse Ioanis, que ajudava nos trabalhos com os mapas da área.

Família ainda continua na área

Por enquanto, nenhum morador terá de sair das casas. A decisão da Justiça não afetou qualquer moradia e ainda cabe recurso no processo, que está em segunda instância.

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Segundo um dos moradores mais antigos do local, João da Conceição de Miranda, de 78 anos, os acordos não foram respeitados ao longo do tempo e os moradores se sentem expulsos da área que é de suas famílias por direito.

_ Nunca tivemos outra moradia. Temos todos os documentos e estamos lutando na Justiça. Mas é difícil contra o poder econômico _ disse o pescador e agricultor, que mora em duas casas com os filhos, genros, noras, netos e um bisneto _ mais de 40 pessoas de três gerações da família moram na área. Miranda disse que deve recorrer das decisões, tanto na Justiça de Santa Catarina quanto em Brasília, se for o caso.

Cresce o interesse imobiliário

A área ganhou destaque no começo dos anos 1990, quando o Grupo Batistella começou a negociar a instalação de um terminal portuário privado.

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Em junho de 2011, o porto foi inaugurado e uma série de benefícios foi levada à região, como água, energia elétrica e os acessos asfaltados, o que alavancou também o mercado imobiliário.

O asfalto chegou à região no fim de 2012. Desde então, aumentou muito a procura pelo balneário, hoje habitado por pescadores. O acesso tem pouco mais de 30 quilômetros recém-asfaltados (SC-415), que faz a ligação do porto à BR-101, passando por Garuva.

O desentendimento entre a construtora e a família começou na década de 80, mas como não havia tanto interesse pela área, tudo era resolvido com novos acordos ou com decisões individuais na Justiça. Mas o problema se agravou com a chegada do Porto de Itapoá e a valorização da região. Um terreno que era vendido por cerca de R$ 15 mil há dez anos, hoje não sai por menos de R$ 100 mil.

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A infraestrutura dos lotes _ ruas delimitadas, asfaltadas, energia elétrica e água _ deve elevar ainda mais os valores.