A educação é o difícil processo de incorporação das novas gerações a um mundo que já existe muito antes de elas nascerem. Não é sempre algo pacífico e indolor, já que transmitir uma cultura e civilizar exige entregar corpo e espírito, resignadamente ou não, às gerações precedentes.

Continua depois da publicidade

Eis um paradoxo que foi identificado pela filósofa Hannah Arendt: a educação conserva a cultura, mas ao mesmo tempo precisa lidar com a importante necessidade de que os novos neste mundo a transformem. Sem isso, não haveria avanço, transformações a que nos convida a imprevisibilidade do futuro.

Se as culturas são diferentes no tempo e no espaço, a educação é uma constante sem a qual a vida humana e sua tentativa de perpetuação não seriam possíveis.

As crianças e jovens são geralmente educados pela família, nas suas muitas formas de organização, mas também pelos meios de comunicação, pelos aparelhos culturais que uma cidade pode oferecer aos seus habitantes, como bibliotecas, museus, teatros, cinemas, galerias, parques, entre tantas possibilidades.

Continua depois da publicidade

Crianças e jovens são educados, no entanto, principalmente pela escola, onde permanecem durante muitas horas do dia, às vezes desde os quatro meses de idade até completarem dezoito ou mais anos.

Muito se fala do fim da escola, que teria se tornada anacrônica pelo fácil acesso a informações, em especial pelos meios digitais que estão à disposição de todos. Mas é exatamente aí que a escola se torna mais importante, absorvendo esses meios, mas também os criticando, tornando-os ferramentas importantes para o aprendizado. Uma sociedade sem escolas seria apenas barbárie, lançando cada um à própria sorte na indústria do entretenimento.

A escola que conhecemos é uma instituição moderna, e seu caráter público, laico e de qualidade, destinada a todos, é resultado das revoluções burguesas e do pensamento iluminista. Quando passamos em frente a uma creche ou escola, é bom lembrarmos que é principalmente nela que as crianças e jovens vão aprender o que é o mundo, como ele funciona pelos enunciados da ciência, das artes, da ética, das práticas corporais.

Continua depois da publicidade

Letras e números, narrativas históricas e leis da física e da química devem conviver com o aprendizado para a vida pública, para a política, aquela prática retórica que, desde os gregos, se preocupa com a cidade: experiência da diferença, da opinião, da pluralidade, da tolerância, do convívio com o outro, tudo que faz distanciar-se da violência.

Na sociedade contemporânea, a educação é responsabilidade do Estado, mesmo quando é oferecida por serviços privados, religiosos ou não, que têm que seguir normas e códigos públicos. Deriva daí a enorme importância do poder municipal, o principal responsável, no Brasil, pela educação infantil e pelos primeiros anos do ensino fundamental.

Governar a cidade demanda que sejam oferecidos equipamentos culturais para todos e exige, especialmente, boas escolas. Isso vale para qualquer município, mas se torna questão ainda mais estratégica para uma cidade como Joinville, cuja potência está também em sua vocação cosmopolita. Nossas crianças e jovens precisam estar à altura dos desafios da complexa globalização que experimentamos: cuidar do quintal de casa, do local, mas sabendo que ele é força e índice de processos universais.

Continua depois da publicidade

Elas têm o direito e o potencial de aprender bem a língua nacional e também outros idiomas, de conhecer, operar e apreciar as ciências, os esportes e as artes. É na escola, principalmente, que isso pode acontecer. Então valorizemo-la em cada bairro, por menor que ela seja, transformando-a em um lugar que vale a pena frequentar, sem violência e com ensino desafiador, oferecendo o devido crédito ao trabalho do professor e à carreira do magistério.

A escola é um direito e uma responsabilidade de todos nós porque a formação das novas gerações está a nosso encargo. Enfrentemos, com destemor e alegria, esse desafio.

Alexandre Fernandez Vaz é doutor em ciências humanas e sociais pela Leibniz Universität Hannover, Alemanha; professor da UFSC, Florianópolis; pesquisador do CNPq.

Continua depois da publicidade

:: Confira página especial do projeto ::