Uma campanha que se desenvolveu com relativa calma nas ruas da Venezuela durante o dia entrou a noite com a tensão refletida na troca de acusações fortes entre as duas candidaturas, do situacionista Nicolás Maduro e do oposicionista Henrique Capriles, em pronunciamentos e pela redes sociais.

Continua depois da publicidade

Houve acusações mútuas de irregularidades na eleição presidencial, a segunda a se realizar em apenas seis meses. Os chavistas (pró-Maduro) atribuem aos adversários o hackeamento do Twitter do candidato e acusam a imprensa de fomentar o nervosismo. A oposição aponta indícios de fraude e cerceamento nas seções.

Os eleitores se mostraram divididos durante todo o processo eleitoral, 40 dias depois da morte de Hugo Chávez.

Em uma atitude de grande simbolismo, Maduro subiu a Avenida Calvario e foi até o Museu da Revolução, o antigo Quartel da Montanha, o museu onde jaz o corpo de Chávez.

Continua depois da publicidade

Os dois candidatos se manifestam confiantes na vitória, o que é reflexo de uma disputa acirrada, com diversas queixas de uso da máquina por parte da oposição.

_ Vimos algumas irregularidades. Havia ônibus do chavismo que levavam eleitores para votar. Um governador fez campanha. Mas o certo é que, independentemente do resultado, a candidatura de Maduro estava se desintegrando. Mais alguns dias, e Capriles estaria com vantagem folgada _ disse a ZH Ricardo Villasmil, principal assessor para economia e políticas públicas do candidato de oposição.

O governo, por intermédio de militares do Comando Estratégico Operacional, culpou a violência que houve aos meios de comunicação, que teriam fomentado a tensão _ no total, houve pouco mais que 40 detenções.

Continua depois da publicidade

Após três horas do horário previsto para o fechamento das urnas, ainda havia 15 seções de votação abertas. A campanha de Capriles reclamou que eleitores chavistas votaram depois de as urnas terem sido fechadas.

Depois dos festejos do vencedor, vem o desafio do novo governante. A inflação em março foi de 2,8% _ e mesmo os analistas governistas já estimam que ela superará os 30% anuais (nos últimos 12 meses, já chegou a 25%). A escassez de alimentos básicos é preocupante: passou de 11% da cesta básica em novembro para 17,7% em março. As contas públicas têm déficit de 15% do Produto Interno Bruto (PIB). A diversificação da economia é uma meta distante na medida em que a dependência em relação ao petróleo se tornou uma camisa de força, tais são os compromissos assumidos.

Internamente, somente com programas sociais, foram gastos US$ 174,1 bilhões entre 1999 e 2012. Ou seja, a dependência em relação ao “ouro negro” vem de tudo que é lado.Quem ganhar terá de buscar consensos para conseguir levar o programa de governo adiante. É o que reconhecem todos os analistas, com uma ressalva em relação a Capriles, que já falava em romper acordos internacionais: toda a vida institucional _ o Judiciário, o Legislativo as forças armadas, os governos estaduais, tudo é chavista, o que tornaria sua situação mais delicada do que a de Maduro.

Continua depois da publicidade

O presidente interino disse que, apesar da situação econômica difícil, honrará os acordos de cooperação energética assinados por Chávez com países como Argentina, Bolívia, Brasil, Cuba (que recebe 100 mil barris diários da Venezuela em troca de serviços, especialmente no setor da saúde).

Outro detalhe lembrado por analistas: o mandato é de seis anos, mas dentro de três anos haverá o referendo revogatório previsto na Constituição. Com o atual estado da economia, é uma ameaça que paira nos ares caribenhos.

>> Imagens do dia: confira fotos das eleições na Venezuela

>> Direto de Caracas: leia as últimas atualizações do enviado especial à capital venezuelana, Léo Gerchmann

Continua depois da publicidade