Fundamental para a maioria das culturas agrícolas de SC, a água é o foco principal do Plano Nacional de Irrigação, aprovado pelo governo federal no dia 14. No Estado, o cultivo de arroz será o maior beneficiado pela simplificação da burocracia. Mas outras culturas, como feijão, soja, milho e pastagem para o gado leiteiro e de corte também entram no foco do plano.
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Após ser aprovado, o plano nacional será encaminhado para regulamentação, que deverá ser feita em até seis meses. Mas, segundo o Ministério da Integração, os primeiros resultados devem demorar dois anos para aparecerem.
O objetivo das medidas é aumentar a produtividade no campo e reduzir a dependência dos efeitos climáticos ao incentivar a ampliação da área irrigada. O que evitaria a repetição de cenários como o vivido por SC em 2012, quando mais da metade do Estado decretou estado de emergência causado por estiagem.
A primeira etapa da mudança deverá ser a formação de um grupo de discussão no Estado por iniciativa do Ministério da Integração. O secretário Nacional de Irrigação, Guilherme Orair, afirma que o potencial de ampliação da área irrigada em SC chega a ser de quase sete vezes.
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– Hoje temos 5,5 milhões de hectares no país e são aproximadamente 150 mil hectares em SC. Mas o potencial do país permite alcançar cerca de 30 milhões de hectares, sendo em torno de 1 milhão no Estado – projeta Orair.
O analista de mercado da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de SC (Epagri), Luiz Marcelino Vieira, é cauteloso sobre os efeitos da medida nas lavouras de arroz do Estado:
– Cerca de 85% das águas usadas nas colheitas de arroz são captadas em rios próximos às lavouras. Por isso, o custo para transporte é relativamente barato e deve ser pouco influenciado pelo plano. Vai ajudar mais é no planejamento, porque o agricultor terá apoio para ter estrutura e poder estocar águas no período de estiagem.
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Maior produtor de arroz do país
poderá reduzir preço do produto
Para o Rio Grande do Sul, líder do mercado com 65% da produção brasileira, a situação será diferente porque as lavouras dependem, basicamente, da água canalizada ou estocada em pequenas cisternas, afirma Orair. Por lá, o efeito deve ser mais concreto, como estima o presidente do Sindicato Rural de Tapes e Sentinela do Sul (SRTS), Juarez Petry de Souza:
– O incentivo à compra de equipamentos mais modernos e eficientes devem fazer os custos na irrigação reduzir entre 15% e 25%. No valor final do produto, me arrisco a dizer que pode gerar até 5% de redução.
Entenda o que vai mudar
Conheça as quatro principais novidades trazidas pelo plano
1. Serão constituídos Planos Diretores Estaduais de Irrigação, seguindo a lei nacional e de responsabilidade do governo federal.
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2. Obras de infraestrutura de irrigação, inclusive os barramentos de cursos de água que provoquem intervenção ou supressão de vegetação, poderão ser consideradas de utilidade pública para o licenciamento ambiental.
3. Projetos públicos e privados de irrigação poderão receber incentivos fiscais, especialmente nas regiões do país que tenham os menores indicadores de desenvolvimento social e nas consideradas prioritárias.
4. Será possível obter equipamentos que façam o uso eficiente da água, modernizar instrumentos e implantar sistemas de suporte à irrigação. Para isto, deve haver linhas de financiamento em órgãos de fomento, cujos detalhes ainda devem ser regulamentados.
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Entrevista: Guilherme Orai, Secretário Nacional de Irrigação
“O cenário estará diferente em 2014”
O secretário Nacional de Irrigação, Guilherme Orai, ligado ao Ministério da Integração Nacional, explica as principais mudanças trazidas pelo novo plano.
Diário Catarinense – O que a nova política traz de novo?
Guilherme Orai – Ela cria um marco legal e traça diretrizes para ampliar a irrigação no Brasil. Para isso, a política cria a possibilidade de financiamento público e diminui a burocracia para que o agricultor receba autorização para colher água de um curso que passa por dentro da propriedade dele. Esse espaço, que é área de preservação permanente, passa a ter prioridade para uso público, que é a irrigação.
DC – A nova lei também define financiamentos ou verba para a irrigação?
Orai – Não, a política determina apenas as ações. Os financiamentos dependem da ação do governo federal, por meio do Ministério da Pesca e Aquicultura, dos estados e dos municípios, em acordo com as diretrizes nacionais. Para que haja essa consonância, a lei determina a criação de comitês nos estados para encaminharmos o assunto. A nossa expectativa é que o comitê de SC esteja criado em 2014.
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DC – Essa política é voltada para grandes, médios ou pequenos agricultores?
Orai – Todo tipo de área agrícola se beneficiará, mas certamente os pequenos, que têm menos estrutura e recursos para ter formas alternativas, serão os maiores beneficiados.
DC – Ainda é preciso a regulamentação desta lei. Em quanto tempo isso ocorrerá?
Orai – A lei deve estar regulamentada em junho. Isso significa que não deve haver mudanças para este ano, nem mesmo durante o período em que houve seca, no ano passado, em SC. Acredito que o cenário deve estar diferente positivamente em 2014, provavelmente no mês de maio, quando os conselhos estaduais estarão em funcionamento.
Solução para o Oeste
DARCI DEBONA, Chapecó
Nos últimos 12 anos, a região Oeste enfrentou oito estiagens. As perdas em 2012 chegaram a R$ 770 milhões. Parte dessas perdas poderia ter sido evitada se houvesse irrigação das culturas.
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Mesmo assim, poucos agricultores da região investem em irrigação. Em anos anteriores, o baixo preço dos produtos e o alto custo dos equipamentos foram fatores que levaram o produtor a não investir. Mas o surgimento de incentivos governamentais e o aumento no preço dos produtos levaram alguns agricultores a irrigar a lavoura para não depender só de São Pedro.
É improvável que a irrigação salte de 150 mil para 1 milhão de hectares. Há limitações como disponibilidade de água em algumas propriedades e também o custo para irrigar grandes extensões. Mas se o programa dobrar de 150 mil para 300 mil hectares irrigados, somente numa estiagem poderia evitar perdas de pelo menos R$ 20 milhões. A iniciativa é válida, mas deve vir acompanhada de políticas de incentivo à construção de reservatórios, além de focar em culturas de maior valor de mercado.