Cliente da Golden Cross há 28 anos, o comerciante aposentado Léo Valmorbida teve uma surpresa desagradável nesta semana. Ao chegar para a consulta marcada pelo plano de saúde, foi informado de que o atendimento não estava autorizado. Resultado da transferência dos clientes dos planos de saúde individuais e familiares da Golden Cross para a Unimed-Rio, o transtorno é um símbolo da perda de espaço no mercado desse tipo de contrato, menos conveniente para as operadoras.

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Autorizada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em setembro, com validade em 1º de outubro, a saída da Golden Cross do mercado de planos individuais e familiares é reflexo da perda de espaço dessa modalidade. O que vem ganhando terreno é um tipo específico de planos coletivos, oferecido para pessoas que formem uma pequena empresa (veja abaixo o quadro Planos Diferentes).

A razão dessa tendência é o fato de que as regras estabelecidas pela agência reguladora para o seguro coletivo por adesão são mais flexíveis para as operadoras. Não têm restrição de reajuste e podem ser rescindidos a qualquer momento. Polyanna Silva, advogada da Proteste, uma entidade de defesa do consumidor, critica as atuais regras:

– As empresas oferecem o plano com preços bastante atrativos e, depois, vão aumentando os valores. Se o cliente não aceita, rompem o contrato.

A advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) Joana Cruz ressalta um outro ponto que considera complicado na regulação.

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– Em planos coletivos por adesão, o usuário não tem direito a portabilidade. Se o cliente quiser trocar de plano, terá de enfrentar novo período de carência. Já entramos com pedido na ANS para mudanças nas normas, mas ainda não obtivemos resposta. Enquanto isso, o consumidor segue desprotegido – alerta.

A Golden Cross repassou 160 mil clientes à Unimed-Rio em todo o país. No Estado, há estimativas diferentes do número de clientes: segundo a Golden Cross, haveria 11,2 mil usuários, para a Unimed-Rio, seriam 15 mil. Durante a transição, as empresas anunciaram que as condições dos contratos dos clientes seriam garantidas, com manutenção de cirurgias, consultas e tratamentos agendados ou em andamento. Na prática, como alguns médicos da Golden Cross não eram credenciados na nova operadora, os pacientes foram obrigados a procurar alternativas.

– Eu tinha consulta com outro médico marcada para o dia 8, mas tive de cancelar, porque ele não atende pela Unimed – comenta Valmorbida.

Situação parecida viveu o professor universitário aposentado Gervasio Neves. Com a transferência, precisou pagar por uma consulta que seria coberta pelo plano inicial.

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– Pessoas como eu, com plano da Golden Cross há mais de 20 anos, têm sua rede de médicos, e esses profissionais foram descredenciados – reclama Neves.

O que diz a Unimed-Rio

Apesar das reclamações, a Unimed-Rio garante que todos os clientes foram informados da mudança no plano e receberam um kit com orientações gerais, nova carteira e guia médico. A empresa afirma que “oferece muito mais opções do que a Golden Cross”, com rede de 110 mil médicos cooperados no Brasil, número 10 vezes maior do que o da antecessora.

Planos diferentes

Individual e familiar

Destinado a pessoas físicas. Tem limite máximo para reajuste anual e não permite rompimento unilateral do serviço.

Coletivo empresarial

Voltado para empresas. A companhia contrata e subsidia parte do valor cobrado aos funcionários. Não tem limite máximo para reajuste anual e não permite rompimento unilateral do serviço.

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Coletivo por adesão

Para entidades com pelo menos duas pessoas que tenham personalidade jurídica constituída. Não tem limite máximo para reajuste anual e permite rompimento unilateral do serviço.