O plano de mobilidade urbana de Itajaí e Navegantes vai sugerir que um túnel subaquático e uma ponte sejam construídos para ligar as duas cidades nos próximos anos. Os projetos estão entre as estratégias e metas propostas pela empresa que está elaborando os planos na região da Associação dos Municípios da Foz do Rio Itajaí (Amfri), a Le Padron. A previsão da entidade é que os documentos sejam apresentados em audiências públicas neste mês e concluídos até maio.
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– Temos que pensar em coisas mais modernas para essa travessia entre as cidades. Apesar de ser um contrassenso, em alguns casos abrir vias é imprescindível, como a questão da transposição do Rio Itajaí-Açu – afirma o arquiteto e urbanista da Le Padron, Gabriel Gollnick.
De acordo com ele, no plano de estratégias estão previstas a criação de uma ponte e de um túnel subaquático afastados do Centro das duas cidades. Um dos motivos é que a área central não comportaria as obras em função do Complexo Portuário e do alto valor das indenizações de terrenos. As propostas e os possíveis locais de instalação já estão sendo analisadas pelas prefeituras.
A necessidade de uma nova ligação surgiu durante consultas públicas e também da análise da empresa sobre a região. Itajaí e Navegantes atraem diariamente muitas viagens por concentrarem aeroporto, universidade, comércio e serviços diferentes. A ideia prevê ainda que o ferry boat continue funcionando, mas de forma integrada ao sistema de transporte coletivo, que seria regionalizado.
Para Gollnick, é preciso pensar todas as cidades da Amfri como se fossem bairros de um município hipotético. Por isso, a integração da região deve estar entre as metas do plano.
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– A dinâmica intermunicipal é muito forte e precisamos começar unir as políticas públicas numa mesma direção. É necessário pensar num plano para o futuro e ter soluções de vanguarda, não se pode repetir as mesmas. Se é para 2030, temos que pensar em estratégias que tornem a região competitiva e com qualidade de vida – observa.
Falta dinheiro e vontade política
Para tirar do papel as ligações que estarão propostas no plano de mobilidade os municípios terão que começar a planejar logo. Há mais de 20 anos a travessia entre Itajaí e Navegantes é discutida, porém, nenhum projeto foi levado a diante pelo Poder Público.
Na década de 90, as Câmaras de Vereadores das duas cidades fizeram sessões conjuntas para autorizar a aplicação de recursos em um projeto de túnel subaquático. O presidente da Câmara de Itajaí, Luiz Carlos Pissetti, na época era procurador do município, diz que a proposta de ligação foi feita pelo mesmo engenheiro que elaborou o túnel do Morro do Boi, entre Balneário Camboriú e Itapema.
– Não tinha como fazer ponte porque teria que ser muito alta e uma ponte móvel exigiria muito recurso e espaço no rio. Foi feito então esse projeto básico do túnel, que ficaria na Barra do Rio. Chegaram a ser feitos orçamentos iniciais, mas o projeto acabou não andando por falta de dinheiro e vontade política – explica.
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Em 2014, uma grande construtora mineira chegou a trabalhar no projeto de um túnel alternativo montado na região do bairro Imaruí. No entanto, até hoje nenhuma proposta foi divulgada oficialmente. No ano passado, a Câmara de Navegantes aprovou um requerimento do vereador Fredolino Bento (PMDB) ao Estado e ao governo federal pedindo que seja avaliada uma nova ligação.
A falta de representatividade política da região em Brasília também fez com que o assunto nunca entrasse em pauta ou mesmo no orçamento da União. O secretário de Governo de Navegantes, Cassiano Ricardo Weiss, afirma que as ligações intermunicipais precisam ser discutidas pelas cidades, porém que uma obra desse porte demanda um custo muito alto.
– O município tem total interesse nessa ligação, seja da forma que for. Mas na situação atual é muito difícil. Precisaríamos conseguir uma emenda de bancada no Congresso com valor significativo e essa questão da representatividade política é um problema – completa.
Mais de 50% da população da região usa automóvel para se deslocar
Um dos dados mais alarmantes apontados pelos planos de mobilidade urbana da região é o alto índice de deslocamentos com carro ou moto. Mais de 50% da população do litoral usa veículo no dia a dia. Um dos motivos, segundo o arquiteto e urbanista da empresa que está elaborando os documentos, Gabriel Gollnick, é que a infraestrutura urbana não privilegia o pedestre e o ciclista. Além disso, o sistema de transporte coletivo não é eficiente, conforme os moradores entrevistados.
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– A pesquisa aponta que existe uma porcentagem de moradores que só não faz mais o trajeto a pé ou de bicicleta porque a questão das calçadas é mal resolvida ou porque faltam de ciclovias. A segurança no deslocamento aparece em segundo lugar como problema – comenta.
De acordo com o arquiteto, o sistema que existe hoje nas cidades da região é voltado para o automóvel em detrimento do pedestre e ciclista. Em alguns municípios existe a pavimentação para o carro, mas não as calçadas.
– A cultura do automóvel está muito presente na população, que a percebe como sinônimo de sucesso e processo, quando não é. Precisamos fazer essa mudança e isso não depende de um só setor, é um conjunto de políticas públicas – afirma.
Entre as questões que precisam avançar estão: a restrição do uso de veículos em determinadas regiões, a melhoria do ambiente urbano, a instalação de equipamentos de suporte às ciclovias e a integração delas, além de um sistema de transporte coletivo de qualidade. Esse último item foi uma das reclamações que surgiram nas consultas públicas. A principal dificuldade está na confiabilidade do sistema, além da pouca oferta de linhas ou horários. Já as cidades que não tem transporte, a reivindicação foi por um sistema adequado.
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– Muitos criticam a empresa de transporte, mas ela apenas cumpre o contrato feito com o Poder Público. Defendemos um sistema que custe mais, mas que seja de qualidade – completa.
Amfri prevê concluir planos de mobilidade em maio
Os planos de mobilidade urbana da região da Amfri estão em fase final de elaboração. A coordenadora dos projetos na associação, Jeanete Fagundes, afirma que a previsão é concluir os documentos em maio. Neste mês, a empresa responsável pelos planos deve terminar também as audiências públicas nas 10 cidades que integram a entidade. Os levantamentos estão sendo feitos há mais de um ano.
– Demorou mais do que o previsto porque foram necessários muitos documentos e levantamentos que os municípios não tinham. Acredito que os planos foram bem detalhados com o que as cidades precisam avançar e com várias ideias interessantes para por em prática – pontua.
Itapema foi a primeira cidade a apresentar suas diretrizes em uma audiência pública no início do mês. Moradores puderam fazer suas sugestões e esclarecer dúvidas. O próximo passo será a elaboração da minuta de lei que será então entregue ao Executivo Municipal.
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O segundo município a apresentar o plano para a comunidade foi Porto Belo, na noite de ontem. Navegantes, Itajaí, Luiz Alves e Camboriú também estão em fase adiantada.
Balneário Camboriú deve começar a elaborar seu plano neste ano
Enquanto outras cidades da região estão adiantadas na elaboração do plano de mobilidade urbana, Balneário Camboriú só deve começar a pensar em suas propostas daqui a 60 ou 90 dias. O secretário de Planejamento da cidade, Fábio Flor, explica que antes o município quer encerrar a revisão do Código de Obras e Posturas, Plano Diretor e Lei de Uso e Ocupação do Solo.
– A revisão do plano e da lei foram concluídas e já estão na Câmara para avaliação e aprovação. Já o código de obras e posturas ainda está sendo revisado. Quando acabar essa parte vamos iniciar os processos do plano de mobilidade – afirma.
Segundo Flor, um grupo já foi escolhido para começar a elaboração do plano este ano, porém não há previsão de quando será concluído. As propostas devem seguir a ideia das demais cidades, humanizando os espaços públicos e priorizando pedestres e ciclistas.
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– Nós temos investido bastante nessa questão e na padronização dos nossos passeios públicos. Queremos que as pessoas possam deixar os veículos em casa e que no dia a dia tenham a opção do transporte público de qualidade para se locomover – aponta.
O secretário diz ainda que a locomoção através de veículos é um problema cultural do brasileiro e o desafio é diminuir o índice de automóveis circulando. O plano deve ser pensado para os próximos 20 ou 30 anos, conforme definição da população.