Apoiados na fé e esperança de uma vida melhor, José e Cléria Molinari abandonaram há 59 anos as terras onde criaram parte dos filhos, em Botuverá, para explorar uma área aparentemente atraente para a agricultura e criação de animais.
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Durante seis horas, com os pés descalços, a família caminhou pela mata fechada, atravessando a água gelada, até chegar ao local que encantara José pouco tempo antes. A partir daí, a pequena comunidade em Indaial, que anos depois ganharia o título de Faxinal do Bepe – alusivo à variação do nome de José para o italiano -, começou a contar com a dedicação da Família Molinari.
A área escolhida por José e Cléria faz parte hoje do território do Parque Nacional Serra do Itajaí. Dos sete filhos do casal, apenas Martin e Isair continuam morando no local. Ari, irmão deles, saiu da área há dois anos, indenizado pelo governo federal como parte das desapropriações previstas para resguardar o território do parque.
Atualmente, Ari mora com a esposa e os filhos em Indaial, distante da vida rural. Por outro lado, os irmãos Martin e Isair ainda encaram com dificuldade o fato de deixar as propriedades, seguindo a determinação do plano de manejo do parque nacional.
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– É que a gente mora há bastante tempo no mesmo lugar. Aí, fica difícil de esquecer – lamenta Isair.
Além dessas duas propriedades, o plano de manejo apontou outras 342 áreas particulares no território de 57 mil hectares do parque. O processo de desapropriação, ao que tudo indica, deve ainda se estender por um longo tempo. Segundo a chefe do Instituto Chico Mendes (ICMBio), Viviane Daufemback, somente sete indenizações foram feitas desde 2004.
– Dependemos dos recursos do fundo de compensação ambiental para fazer as desapropriações. Atualmente, por exemplo, recursos de uma obra em Chapecó estão sendo usados para as indenizações – explica a analista.
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Outros 80 processos de desapropriação estão em andamento, segundo Viviane. A recomendação do ICMBio é que os proprietários de terras no interior do parque procurem o instituto para se informar e agilizar os pagamentos. Uma proposta do
Conselho Consultivo do parque – composto por entidades representativas da região – prevê que as áreas onde há pessoas residindo que dependem do local para sobrevivência tenham prioridade nas desapropriações.