O plano de assassinar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, iniciado por militares bolsonaristas que idealizaram um golpe de Estado após as eleições de 2022, foi abortado depois que o Exército e a Aeronáutica sinalizaram ao então presidente Jair Bolsonaro que não apoiariam eventual tentativa de golpe. As informações são do relatório final de 884 páginas da investigação da Polícia Federal, que teve o sigilo retirado nesta terça-feira (26).
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Segundo a PF, a tentativa de capturar Moraes foi batizada de “Punhal Verde Amarelo” e ocorreu no dia 15 de dezembro de 2022, mesma data em que os investigados pretendiam consumar o golpe de Estado.
Enquanto os militares envolvidos no atentado a Moraes organizavam a tentativa de prender ou executar o ministro, o núcleo jurídico do grupo investigado, segundo a PF, concluiu o decreto que iria determinar a ruptura institucional, declarando Estado de Defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e instituindo uma Comissão de Regularidade Eleitoral para “apurar a conformeidade e a legalidade do processo eleitoral”.
Para consumar o golpe, no entanto, o grupo considerava fundamental ter o apoio do braço armado do Estado, em especial o Exército, força terrestre. Para isso, segundo a PF, Bolsonaro teria feito váris reuniões com comandantes das Forças Armadas em busca de apoio. Conforme a PF, Bolsonaro recebeu o “sim” da Marina e do Ministério da Defesa. O Exército e a Aeronática, no entanto, recusaram-se a embarcar no plano golpista.
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No dia da tentativa de golpe, em 15 de dezembro, o general Mario Fernandes enviou uma mensagem ao general Ramos afirmando que o comandante do Exército, general Freire Gomes, iria até o Palácio do Alvorada para informar Jair Bolsonaro de que iria aderir ao plano de golpe. O registro de acesso do Palácio do Alvorada confirma que Frenre Gomes esteve no local entre 10h45min e 12h daquele dia, segundo dados obtidos pelas investigações da PF.
No entanto, ao contrário da expectativa dos investigados, Freire Gomes manteve a posição de que o Exército não iria aderir à ruptura institucional. Com isso, na avaliação da PF, o grupo criminoso não teve confiança suficiente para consumar o golpe e o presidente Jair Bolsonaro decidiu não assinar o decreto do golpe, embora o documento estivesse pronto. Também em razão disso a operação para prender ou executar o ministro Alexandre de Moraes foi abortada, conforme apontam mensagens trocadas entre os envolvidos em um grupo de WhatsApp chamado de “Copa 2022”.
Veja prints das mensagens
Troca de mensagens também citou recusa do Exército
Na noite do dia 15, Bolsonaro ainda recebeu no Palácio do Alvorada os generais Mario Gernandes, Braga Netto, o ministro da Justiça, Anderson Torres, e o assessor Filipe Martins.
No dia seguinte, uma troca de mensagens entre dois militares envolvidos no plano golpista confirmariam que a não adesão de Exército e Aeronáutica ao golpe teriam causado a mudança de planos.
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O coronel Gustavo Gomes repassou ao investigado Sérgio Cavaliere uma mensagem de WhatsApp encaminhada descrevendo o cenário:
“: “(…) Infelizmente a FAB afrouxou e o EB agora também está afrouxando. “…..somente o MB quer guerra….. o PR realmente foi abandonado…. (…)”, disse a mensagem, em referência à Força Aérea Brasileira (FAB), ao Exército Brasileiro (EB) e à Marinha do Brasil (MB). Após repassar a mensagem, Gomes complementou:
“Recebi de um amigo. Acabou!”.
O interlocutor Sérgio Cavaliere responde com uma mensagem de áudio dizendo que repassou o print da mensagem ao “nosso amigo lá da Presidência” – o que segundo a PF era uma referência ao tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro – e que ele teria confirmado que o cenário era exatamente esse, a Marinha disposta a apoiar o golpe, mas o Exército e a Aeronáutica, não.
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