Três anos depois de Planeta dos Macacos – A Origem e 48 após o lendário primeiro filme da série, estreia hoje em circuito nacional Planeta dos Macacos – O Confronto. Sucesso nos Estados Unidos, onde lidera a bilheteria há duas semanas, a continuação da história de César revela uma obra ainda mais dramática e impactante: agora o símio conhece muito bem os humanos e até nutre um resto de simpatia por eles, mas não poupará quem tentar destruir sua espécie.

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Na última vez em que apareceu diante dos olhos dos espectadores, ele comandava um grupo de macacos em direção à Golden Gate Bridge, a icônica ponte em San Francisco. Dez anos se passaram desde então, e o animal geneticamente modificado agora é o líder de uma sociedade formada por macacos, gorilas e chimpanzés, que criaram uma comunidade em um parque florestal da Califórnia. Enquanto isso, um vírus criado em laboratório está dizimando a população mundial – o fato de ser chamado de gripe símia, porém, causa parte da revolta que os homens sentem contra a espécie.

A nova ordem é abalada quando a colônia americana de humanos precisa entrar no território de César e reativar uma usina que fará funcionar a energia elétrica novamente. No entanto, o encontro torna-se o estopim de uma guerra quando membros dos dois lados não concordam com o momento de tolerância.

Dirigido por Matt Reeves – de filmes como o remake do suspense Deixe-me Entrar e de Cloverfield – Monstro, Planeta dos Macacos – O Confronto conta ainda com atores como Gary Oldman e Keri Russel nos papeis “humanos”. Mas são os símios que lideram esta obra, vividos com maestria não só pelo intérprete de César, Andy Serkis (que já havia dado ao cinema o famoso Gollum, de O Senhor dos Anéis e O Hobbit), mas também por Toby Kebbel e Judy Greer.

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De Darwin a Orwell

Por Andrey Lehnamann, jornalista e crítico de cinema

Arrisco dizer que Planeta dos Macacos – O Confronto é exatamente o filme que Charles Darwin e George Orwell se uniriam para realizar. Completamente calcado na evolução inversa, do humano para o animal, Matt Reeves compõe sua narrativa centrada no caminho percorrido pelo homem até chegar ao estágio de passagem ao novo mundo que iremos observar. Desse modo, o olhar sombrio que inicia este longa-metragem é marcante por indicar a felicidade extinta daquele simpático César, que agora é o líder dessa nova civilização. Igualmente, Reeves pontua sua história de forma ampla e profunda, com a análise evolutiva do mundo dos animais, mostrando a sucessão de seus sinais, luta, caça, alimentação, domínio e a primeira expressão: note, aliás, que é um grito de vão embora para os humanos. Nada é à toa, o que também ressalta o fato de os animais iniciarem nas cavernas, passando aos filhos sua racionalidade, para depois andarem em duas patas. Ao mesmo tempo, o roteiro é quase transformado numa adaptação magnífica de A Revolução dos Bichos, que aqui possui Koba como seu Napoleão e César como Bola de Neve. Os humanos como invasores, a grande batalha, a liberdade (macaco não mata macaco), um dos símios se rebelando e usando objetos humanos, passando-se por ditador o livro de Orwell é bem exposto em pouco mais de duas horas. No novo mundo de Reeves, os homens são comprimidos nas paredes que construíram, as portas se abrem aos macacos, o desarmamento é a mensagem e a nossa marca no planeta não passa de memórias num iPad. É uma visão dura, mas impactante. Algo que consegue render até uma boa imagem ao primeiro filme.