Logo que percebeu o tamanho e a importância histórica do evento climático que culminou com mais de um terço dos municípios catarinenses cobertos pela neve, no começo da semana, a professora universitária Marivanda Bortoloso Pigatto empreendeu uma verdadeira cruzada em busca de fotos das cidades do Planalto Norte que pudessem mostrar a beleza e o potencial turístico da região, especialmente aquelas cidades que fazem parte do Vale do Contestado. Desde então, em sua página no Facebook, ela tem publicado as imagens com informações históricas e um apelo quase emocional.

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– Que a nossa região tão linda e surpreendente agora desperte os olhares de muitos! Nosso turismo vai ganhar muito com isso! Não deixem de divulgar nosso roteiro Caminhos do Contestado – exclama a professora em uma das imagens.

O esforço de Marivanda faz todo sentido. Não só porque praticamente todas as cidades da região registraram neve, mas porque inverno após inverno o frio por lá é tão ou mais intenso do que na serra Catarinense, região que ganhou projeção nacional nas últimas duas décadas por causa da neve.

Mas – se há frio, muito frio – o mesmo não pode ser dito do modelo de negócios turísticos da região. Afinal, é possível atrair turistas com o frio?

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A resposta de especialistas e integrantes do trade turístico ouvidos por “AN” é positiva. Não que a região possa fazer frente às duas serras famosas do Sul, a gaúcha e a catarinense, onde há neve praticamente todos os anos.

– Turista quer ver neve. Não cinco minutos de pequenos flocos. Quer ver nevascas, fazer fotos, se divertir, postar nas redes sociais – avalia Geraldo Linzmeyer, que integra a Associação Brasileira de Indústria de Hotéis (ABIH) e é conselheiro estadual de turismo.

Segundo ele, o frio pelo frio não pode ser um atrativo para as cidades do Planalto Norte. É preciso investir em eventos, em ações conjuntas, na cultura e na história locais.

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Atrativos e esforço

Na avaliação da professora Marivanda, as cidades do Planalto Norte já têm uma série de atrativos, de indutores de turismo, que podem ser explorados associados ao frio.

– Há cenários lindos, igrejas históricas, museus, parques, roteiros ligados ao cenário da Guerra do Contestado. A oferta turística existe. Mas é preciso planejar, fazer projetos de longo prazo, treinar toda a cadeia turística, agências, hotéis, pousadas e restaurantes – diz.

Desde o começo da década passada, as cidades que fazem parte do Vale do Contestado já lutam para dar esse passo adiante na atração de turistas.

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– O joinvilense já tem o costume de subir a serra, mas poderia vir muito mais, durante o inverno todo – diz o prefeito de Campo Alegre, Rubens Blaszokowski.

Na tentativa de beliscar o bolo de turistas que vem para Joinville no Festival de Dança, a Prefeitura investiu em um festival de inverno curto, concentrado em atrações musicais, gastronomia típica das noites frias e, claro, muitos pratos à base de carne de ovelha, principal atração culinária da cidade.

Frio é o que não falta na região

A previsão de sensação térmica no Planalto Norte, segundo o Epagri/Ciram, chegou a ficar entre -3ºC para os dias e -17ºC para as madrugadas durante a semana. Segundo o meteorologista do Grupo RBS em Santa Catarina, Leandro Puchalski, as estações do Planalto Norte não têm uma grande série histórica que permita dizer se ali é ou não uma região tão fria quanto a serra.

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– Posso dizer que é uma região extremamente fria – diz.

Os meteorologistas Gilsânia Cruz e Marcelo Matins, do Epagri/Ciram, avaliaram o que ocorreu durante a semana e explicaram por que o Planalto Norte está entre as regiões mais frias do Estado.

– O relevo do Estado é bastante acidentado. Há regiões com montanhas e morros. Grande parte do Oeste e Meio-oeste tem altitude superior a 800 metros. No Planalto Norte, os valores de altitude ultrapassam facilmente os mil metros. Estes fatores, associados aos elementos meteorológicos, como umidade e temperatura baixa favorecem a ocorrência da neve.