Dez mil quilômetros em linha reta separam as ilhas de Santa Catarina, no Brasil, e de Elba, no norte da Itália. Distância que não inibe Enrico Pappi, 54 anos, morador de Canasvieiras, em passar um verão às margens do Atlântico e outro à beira do Mediterrâneo. Quando o verão se aproxima da Europa, ele voa para a região entre Córsega e Toscana onde trabalha no restaurante da família.
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Quando por aqui o frio vai embora, desembarca em Florianópolis cheio de histórias para contar. Faz isso por entre mesas e cadeiras da modesta pizzaria que possui no Centro de Canasvieiras. Empolga-se como um guia de turismo a vender as belezas e a história do arquipélago de Elba, lugar que há 200 anos serviu de exílio para Napoleão Bonaparte, e que considera um dos recantos mais lindos do mundo. Vez ou outra, o sotaque carregado gera dúvidas sobre a nacionalidade:
_ Me pergunte se sou argentino. Nego e aviso: sou elbano – brinca.
Para marcar o nome da cidade em que nasceu, promete incluir uma pizza no cardápio que faça alusão a Bonaparte. Enrico conta que se sente bem em viver com um pé lá e outro cá. Nasceu em Elba e lá vivem familiares. Um dos irmãos é pizzaiolo e com ele aprendeu a fazer massas. Aqui reconstruiu a família e possui muitos clientes transformados em amigos. Alguns ficaram tão encantados com suas narrativas que foram conhecer Elba.
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_ Aconteceu de alguém me telefonar e dizer: estou no quarto de Napoleão – brinca.
OS DOIS MARES TÊM MUITAS SEMELHANÇAS
Transformada em museu, a residência estrategicamente virada para a baía foi visitada por Enrico umas 30 vezes. Apesar de ter se formado em perito eletrônico, aos 15 anos descobriu que gostaria de trabalhar com o público.
O empresário chegou ao Brasil em 1994. Morou no Rio Grande do Sul e, mais tarde, teve uma forneria no Norte da Ilha. Na época, Florianópolis ainda não vivenciava a exploração imobiliária. Quando compara a Ilha e Elba, cita diferenças na geografia:
_ Em Elba, o mar é de um azul cristalino. Aqui, um verde intenso.
Acredita que Elba se conserve por ser mais distante do Continente e só possível chegar de navio. Mas há semelhanças:
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_ Elba tem cerca de 40 mil moradores e na alta temporada chegam a 100 mil.
Ilha de Elba fica no mar Mediterrâneo e tem 40 mil habitantes (Foto: Cristian Weiss / Agência RBS)
A ILHA DE LÁ
# Elba é a terceira maior ilha da Itália, com 72 praias e principal destino turístico do arquipélago da Toscana.
# São muitos os vilarejos encravados na rocha, refletidos no mar cristalino de cor azul-turquesa.
# Belezas à parte, Elba não seria tão conhecida sem o exílio de Napoleão Bonaparte. Foram nove meses depois da fracassada invasão da Rússia, em 1814.
# Na época com 44 anos, o imperador teve direito a privilégios. A segurança era garantida por uma escolta de 400 militares e ficou alojado no Palácio de Mulini.
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# A estada foi curta, mas ganhou simpatia dos moradores por construir estradas e escolas. Dizem que Napoleão não queria sair da ilha devido ao delicioso vinho, o Alleático – Pasito de Elba, produzido na região. Mas rumores de que seria transferido para outra ilha o motivaram a fugir, no dia 26 de fevereiro de 1815, há 200 anos. No caminho, recrutou soldados que vieram para lhe reconduzir ao exílio, rumando com as tropas a Paris.
# Em 1815, ele voltou ao poder, ainda que enfraquecido. Mas foi derrotado definitivamente em junho, na Batalha de Waterloo.
Imperador Napoleão Bonaparte ficou exilado em Elba no século 19