O eventual benefício de R$ 1 mil para caminhoneiros autônomos, que é discutido no Congresso Nacional por iniciativa do governo Jair Bolsonaro (PL), já é entendido pela categoria como uma ajuda que serviria apenas para sobrevivência. A avaliação é do presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos e Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de Santa Catarina (Fecam-SC), Francisco Biazotto.
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— Se realmente existir e for repassado aos caminhoneiros, é uma boa ajuda. Não é uma ajuda para viajar, mas, para quem está precisando, é algo — disse ao Diário Catarinense.
O líder da entidade que, no Estado, representa cerca de 44 mil profissionais, entre autônomos e microempreendedores individuais (MEIs), reforçou, no entanto, que o benefício não supera a reclamação mais recorrente da categoria: o preço do diesel.
— De que adianta um desconto se o diesel sobe 10%, 15% a cada 60 dias? — questionou Biazotto, que cobra intervenção mais incisiva do governo na Petrobras. Um reajuste do último dia 17 nas refinarias da estatal deixou o diesel mais caro até que a gasolina.
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— O negócio é que o Brasil está algemado. Vão ter que dar um jeito na Petrobras, não pode continuar assim. O aumento lá é pelo dólar. Se dependermos só da Petrobras, nós estamos quebrados — afirmou o líder sindical.
A estatal adota desde 2016 a política de preço de paridade internacional (PPI), que atrela o valor dos combustíveis ao mercado exterior. O presidente Jair Bolsonaro (PL) reforçou há pouco, no entanto, que não irá alterar o modelo.
Ainda assim, o mandatário avalia outras medidas para amenizar o desgaste que tem sofrido com o setor de transportes, caso do auxílio que vem sendo chamado de Pix caminhoneiro. Opositores acusam o benefício de eleitoreiro, já que começaria a ser pago a quatro meses das eleições, ao custo total de R$ 5,4 bilhões.
O presidente da Fecam-SC diz não fazer análise sobre esse eventual impacto, embora ele próprio se diga bolsonarista. Biazotto afirma ver a categoria dividida em relação ao presidente, assim como outros setores da sociedade.
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Já o cientista político Julian Borba, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), afirma que o auxílio ajudaria a conter parte da insatisfação dos caminhoneiros, uma das importantes bases sociais de Bolsonaro desde 2018, mas não seria decisivo para uma eventual reeleição do presidente.
— Não acredito que teria um impacto de grandes proporções, no sentido de mudar radicalmente o quadro que vivenciamos, porque a inflação e o baixo crescimento continuam. E isso continuará afetando o conjunto do eleitorado.
Borba pondera, ainda, que a avaliação do real impacto ainda é limitada pelas incertezas sobre a própria viabilidade da medida. Ele cita o pouco tempo para a tramitação do projeto no Congresso e a dificuldade de implementação, já que não há uma base cadastral do governo que indique hoje quem seriam os beneficiados.
O Pix caminhoneiro é discutido hoje no Senado dentro da PEC 16/2022. O relator do texto, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), disse, ao final da semana anterior, que entregaria seu parecer nesta segunda (27), para que a matéria pudesse avançar.
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