Pisa da uva celebra início da colheita da Goethe no Sul de Santa Catarina

Em época de colheita da uva, nem tudo é trabalho. A vindima é a tradição trazida pelos imigrantes italianos, e hoje preservada pelos descendentes, de celebrar a safra com comida, música e dança. Em Urussanga, nos Vales da Uva Goethe, as vinícolas têm programação variada para receber turistas. Uma das mais divertidas, que agrada adultos e crianças, é a pisa da uva.

A atividade ocorre na Vigna Mazon e pode ser feita durante a semana mediante agendamento, ou dentro das atividades de sábado e domingo. O visitante prova alguns cachos no parreiral e pode realizar uma pequena colheita. Na hora da pisa, enquanto os mais tímidos preferem fotografar, o resto da turma entra nas tinas de madeira para curtir a experiência.

— O processo de pisa sempre era feito com música, alegria, pois chegava em determinado momento o cansaço começava a bater. A gente sempre alerta que é preciso pisar com alegria, para o vinho sair bem doce — explica o guia turístico Willian Marques.

O processo começa tímido, mas depois da primeira “corajosa”, os demais se animam. Nadir Ana Cardoso, 69 anos, quis experimentar e foi logo tirando os sapatos. O marido Orídio Paulo Cardoso, 74, quase não acreditou quando ela entrou na tina. Os dois moram em São José e foram de excursão conhecer as belezas – e os vinhos – da região Sul do Estado.

— Tenho dois pés de uva lá em casa, plantei há dois anos, gosto muito. O dia está sendo ótimo, além do passeio, colheita, ainda aprendi algumas coisas para cultivar a minha uva — conta o aposentado.

As uvas utilizadas na pisa são da variedade bordô, já que a Goethe é destinada para a produção dos vinhos e espumantes. Depois da “brincadeira”, a mistura do suco, cascas e bagas, chamada de mosto, vira adubo e volta para o parreiral. Hoje em dia, a prensa da uva é mecanizada, mas a ideia de promover é pisa é fazer com que essa parte da história da vitivinicultura não se perca.

— É um resgate, a vivência da colheita e da pisa da uva, atrai o visitante. Estamos satisfeitos por conseguir integrar gastronomia, artes e outras atividades nessa edição da vindima. Sem dúvida, há um incremento de cerca de 300% na nossa economia nesse período — comemora Patrícia Mazon Freitas, sócia da vinícola.

Safra será de Goethe mais aromática

A uva Goethe é uma híbrida com 87% de uvas viníferas e 13% de uva norte-americana. O resultado são vinhos aromáticos, frutados e florais. No mundo, a estimativa é que existam somente 55 hectares de Goethe, e na região dos Vales da Uva Goethe, em Santa Catarina, ficam pelo menos 40 deles. Típica, única e rara, como é definida pelos produtores, a Goethe deve ter uma safra diferente esse ano.

O inverno não foi tão frio como o esperado, e houve uma quebra da safra segundo o enólogo Stevan Arcari. Gerente da Estação Experimental da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) de Urussanga, Arcari explica que as plantas emitiram menos brotos e, consequentemente, menos cachos.

Na primavera e no verão o clima colaborou, mas a quantidade da uva reduziu mais um pouco em alguns vinhedos que sofreram com a falta de chuva. Apesar dos contratempos, o resultado foi uma uva mais doce e saborosa, que amadureceu muito bem, analisa o enólogo.

— O aroma frutado dos vinhos está muito intenso, e como nessa fase o aroma se expande muito junto com o gás carbônico formado na fermentação, ao entrar nas vinícolas já se sente um aroma bem mais intenso do que se percebia nas outras safras — comenta.

A pisa no mundo do vinho

A prensa da uva com os pés é um método ainda é praticado em algumas vinícolas pelo mundo, principalmente na região de Douro, em Portugal, onde são produzidos os famosos Vinhos do Porto. De acordo com especialistas, a pisa consegue extrair cor e outras substâncias que garantem qualidade e características únicas ao vinho, sem a quebra de sementes.

Esse tipo de mão de obra, embora ofereça benefícios à bebida, tem um custo elevado. A prensa mecânica faz o processo em minutos, enquanto a pisa pode levar horas. Ao longo do tempo, a prensa passou a substituir o trabalho humano, que ficou restrito a alguns vinhos ou a atividades que se propõe a resgatar a história da bebida.