O índice de qualidade da água (IQA) da bacia do rio Cachoeira, em Joinville, caiu de 45,8 para 40,1 pontos nos últimos quatro anos, numa escala que vai de 0 a 100. É o que sugere um comparativo de um estudo feito em 2015 pelo mestre em saúde e meio ambiente, Thiago Zschornack, com os dados do último monitoramento da Companhia Águas de Joinville. O resultado indica um revés na crescente evolução das condições do rio, que entre os anos de 2011 e 2015 teve IQA geral passando de 27,5 para os 45,8 pontos, quando saiu da zona de classificação ruim para razoável. Apesar disso, o Cachoeira mantém, em 2019, média de qualificação da água em situação aceitável e apresenta perspectiva de recuperação.
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A Bacia Hidrográfica do Rio Cachoeira é a que contempla a maior parcela da população dentre as seis bacias joinvilenses e foi justamente às margens dele que a cidade se desenvolveu desde a chegada dos primeiros colonizadores do município. Com o passar dos anos, o crescimento trouxe o aumento gradual da poluição para o rio, que, aliada à crescente demanda por maior cobertura da rede de esgoto sanitário em seu entorno, representa um desafio para tratá-lo e mantê-lo em boas condições.
A última análise da Companhia Águas de Joinville sobre a situação da bacia do Cachoeira é de junho deste ano (tendo em vista que os dados de julho levam em torno de 20 dias para serem ajustados). O monitoramento avalia o impacto dos esgotos domésticos em suas águas e demonstra que a qualidade da água é imprópria para consumo ou para banho. Dentre os fatores considerados para determinar a qualidade do rio estão a análise da quantidade de nitrogênio, fósforo e oxigênio dissolvido, além da cor, turbidez e a presença de coliformes na água.
Segundo a amostragem mais recente, o ÍQA médio alcança 40,12% dos 100% possíveis na bacia hidrográfica do rio Cachoeira. Os melhores indicadores são os pontos do rio Mirandinha, no pontilhão da rua Rio Negrinho (43,21/100); rio Morro Alto no pontilhão da rua Orestes Guimarães (42,88/100); e rio Bom Retiro, no pontilhão da rua General Câmara (42,85/100).
Já os pontos de maior atenção, ou seja, os mais críticos são o rio Mirandinha, no pontilhão da rua Dona Francisca (37,32/100); rio Cachoeira, no pontilhão da Rua Alicia Bittencourt Ferreira (38,06/100); e rio Jaguarão, na altura do pontilhão da rua Urussanga (38,98/100).
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Agente poluidor e ações de combate

De acordo com a Companhia Águas de Joinville, as ligações clandestinas e o despejo de poluentes no curso da bacia — que representa 7,3% da área de Joinville e concentra em suas margens metade da população da cidade — são os grandes vilões para a manutenção do Cachoeira. Em visitas de campo para colher amostragem da água, são comuns aos funcionários da Águas de Joinville encontrarem pedaços de madeira, móveis e outros descartes nas margens e na própria água do rio — denotando a importância de conscientização da população em cuidar do bem natural.
Como contrapartida, para conter e tentar reverter a queda de qualidade da água algumas medidas vêm sendo adotadas pela companhia. Primeiro houve o aumento de 13 para 19 o número de pontos analisados, além disso a periodicidade de coleta das amostras passou de seis meses para aferição mensal, feita por ao menos uma dezena de profissionais.
— Essas mudanças foram adotadas diante dos últimos índices obtidos e buscam reunir uma base mais consistente e padronizada dos dados e resultados. Além disso, um dos fatores que pode estar influenciando (na queda de qualidade) é o despejo clandestino de esgoto, por isso a fiscalização também será aumentada — aponta Patrícia Helena Eggert Karnopp, responsável pelo laboratório de Controle de Qualidade da Cia Águas de Joinville.
— O compromisso da companhia é manter os rios vivos e limpos e para isso a gente precisa da ajuda da população para conseguir atingir este objetivo — completa.
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Ações de resgate
A Prefeitura de Joinville destaca estar atenta a situação. Em nota, a administração municipal informou à reportagem que são realizadas ações de limpeza no rio Cachoeira em áreas avaliadas de riscos e que podem comprometer com a vazão das águas. “A principal ação de despoluição no momento são os investimentos realizados pela Companhia Águas de Joinville para a expansão do tratamento de esgoto”, aponta.
Conforme dados da companhia, na área da Bacia Hidrográfica do Rio Cachoeira existem 85.600 economias com ligação de água ativa e 57.184 economias com ligação de esgoto ativa. Esses números indicam índice de cobertura de esgoto da bacia em 66,8%, bem acima dos 49,27% de 2015.
Segundo a Águas, a tendência é aumentar esse percentual nos próximos anos, tendo em vista que há investimentos ocorrendo na rede na Zona Sul no bairro Boa Vista, o que leva a expectativa de que a cidade como um todo (não só na região compreendida pelo rio) tenha 50% de cobertura em 2022.
Ainda conforme a Prefeitura, a Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente também faz ações de fiscalização para monitorar possíveis danos ambientais que possam comprometer a qualidade da água. Há ainda a previsão de realização da revisão do Plano Municipal de Saneamento Básico. De acordo com o poder público, a revisão deve iniciar em setembro e vai dar os direcionamentos a respeito da ampliação das ações de saneamento,que irão refletir na melhoria da qualidade da água do rio Cachoeira.
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Comitê acompanha evolução da qualidade da água do rio
A Universidade da Região de Joinville (Univille) é outro meio de garantia do monitoramento das águas do rio Cachoeira. O centro universitário comporta a assessoria técnica do Comitê de Gerenciamento dos Recursos Hídricos das bacias hidrográficas dos rios Cachoeira e Cubatão, sob coordenação da Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da Univille, Therezinha M. Novais de Oliveira.
O comitê faz monitoramento mensal da qualidade da água em três pontos de amostragens, também com o intuito de manter informações atualizadas e gerar dados que possam promover uma melhor gestão das condições do rio.
Nos pontos avaliados pela Univille, os resultados das amostras são mais satisfatórios e mostram no mês de junho, qualidade razoável da água numa faixa que varia de péssima a ótima: João Pessoa (IQA 49/100); Prefeitura (48/100) e Ponte do Trabalhador (45/100).
Para Therezinha Oliveira, para aumentar o IQA do Cachoeira “é essencial investir na ampliação da rede de coleta e o tratamento do esgoto sanitário, bem como ampliar a fiscalização na área de resíduos sólidos evitando que as pessoas joguem resíduos no rio ou nas margens”. Ela cita ainda a necessidade de fiscalização mais eficaz, em cumprimento a resolução 430 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que versa sobre os padrões de lançamento de efluentes.
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Outro tema controverso quanto a despoluição do Cachoeira é a possibilidade de dragagem do lodo depositado no leito do rio. “Caso o rio tenha que passar por dragagem é importante que seja respeitada a resolução 454/2012 do Conama, para que haja destinação correta dos sedimentos”, justifica a especialista.