A Galeria Chardonnay, em Florianópolis, recebe todas as cores que o artista plástico Tércio da Gama vê na Capital até dia 11 de janeiro. São pinturas que retratam lendas e mitos da cultura local, como a bernunça e o boi-de-mamão, e também cenas reais, como a Ponte Hercílio Luz, a tarrafa dos pescadores, uma tartaruga, ou uma cena da rua Bocaiúva, da infância pobre do pintor, quando o vizinho ter um Ford era algo extraordinário.

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– Tudo isso é pretexto para pintar, mas me preocupo mais com o resultado do que com o tema. E na pintura o que mais me agrada é a cor – diz Tércio.

Para quem vê as pinturas expostas, a predileção do artista pela cor não é segredo nenhum. Aos 79 anos, Tércio está pintando adoidado, como ele mesmo define. Ano que vem, uma exposição no Centro Integrado de Cultura (CIC), com mais de 300 obras obras, vai ocupar pela primeira vez o museu inteiro e homenagear além de seus 80 anos, seus 55 anos de carreira como pintor.

– Todo dia minha mulher se prepara para sair e pergunta “o que você vai fazer hoje?” e eu respondo “uma pintura”. Então ela pergunta “uma pintura do quê?” e eu não tenho a menor ideia. É a pintura que me leva. Praticamente não risco, não faço desenhos antes de partir para a tela. Uso a tinta direto do tubo para o quadro e nunca sei exatamente onde vou chegar. Às vezes começo querendo fazer uma coisa e acabo fazendo outra totalmente diferente. Minha mulher diz que isso é coisa de maluco, me vê às vezes passar um branco e mudar tudo em um quadro e fica agoniada. Vira e mexe não gosta do que eu pinto e quando ela não gosta coloco o nome dela. (risos) Tem, por exemplo, o Flores de Neide, porque ela não gostou… Você veja ali naquele quadro, o pescador tira ali aquele monte de… de berbigão, sei lá, nem eu sei – brinca o pintor sobre seu processo criativo.

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Tércio, que já foi comparado com fauvistas, como Matisse, com o holandês Klimt e até mesmo Van Gogh, não se faz de rogado sobre suas referências.

– Gosto de todos esses. E também Gauguin, Rembrandt e Picasso. Picasso era um gênio. Em 42 ele fez um quadro da explosão da bomba atômica, e em 45, quando a bomba realmente explodiu, foi exatamente como ele imaginou – conta.

Evolução

Atualmente, Tércio se dedica a um novo projeto de pintura.

– Estou fazendo uma coisa que nunca antes fizeram, estou tentando pintar músicas. Criar imagens para a quinta sinfonia de Beethoven, para Stravinsky e por aí vai. A gente precisa evoluir, não dá para ficar parado.

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A incursão no abstrato marca uma nova etapa da obra de Tércio.

– Tirando aqueles hiper-realistas, que é o nome novo que os americanos inventaram para os clássicos (porque eles têm esse tipo de pintor aos montes), tirando esses que realmente copiam as coisas (e não tem nada mais fácil do que copiar) todo o resto é abstrato. Qualquer representação, por mais que remeta a alguma coisa, não existe na realidade. Eu sei que aqui está desenhado um cavalo, mas o cavalo não é assim, então isso é uma abstração – reflete.

Se o filósofo olha o mundo com os olhos de uma criança, os artistas, como Tércio, fazem o mesmo. Ao ver o fotógrafo do DC chegar com seu colete, ele pergunta se ele está indo ao Vietnã, comparando o aparato com a parafernália militar. Depois de questionar o que existe em cada bolso e de até vestir o colete para conhecer a sensação, o artista fica embascado com as fotos em perspectiva do fotógrafo Daniel Conzi.

– Mas olha isso, ele criou uma fotografia em 3D! Dois quadros se uniram na foto e a união dos desenhos formou um peixe! Isso é incrível! – maravilha-se Tércio.

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Essa vitalidade e curiosidade prometem uma bela mostra no CIC ano que vem.

Agende-se

O quê: Exposição de quadros de Tércio da Gama

Onde: Galeria Chadornnay, espaço Vinho e Arte, Rua Padre Loureço de Andrade, 496, Santo Antônio de Lisboa, Florianópolis

Quanto: gratuito