Um pinguim Magalhães apareceu na manhã desta segunda-feira na Praia do Poá, ao lado da Praia Grande, em Penha. Ele foi recolhido por moradores e enviado para o Centro de Reabilitação de Aves Marinhas do Centro de Ciência Tecnológica da Terra e do Mar (CTTMar) da Univali, também em Penha. O animal, que estava muito cansado, está passando por tratamento de reabilitação e, na próxima semana, deve ser enviado para a Polícia Ambiental em Florianópolis, que vai fazer a soltura. Apenas esse ano, cinco pinguins já passaram por tratamento no Laboratório. A maior parte destas aves são jovens excedentes de populações que realizam este deslocamento procurando alimentos.

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Segundo o coordenador de maricultura do Centro, Gilberto Mazoni, é natural o aparecimento de pinguins em praias do Litoral nesta época do ano, e é provável que ele apenas se perdeu do bando. Manzoni diz que eles são procedentes do sul da Patagônia e que durante essa época do ano deslocam-se para a região sul-sudeste do litoral brasileiro direcionados pelas correntes das Malvinas e tempestades oceânicas.

Manzoni diz que o animal recebido pelo laboratório nesta segunda-feira está em boas condições de saúde e se a recuperação ocorrer de acordo com o previsto ele devem ser encaminhado para a sede da Polícia Ambiental, em Florianópolis.

Essa, no entanto, não é a realidade da maioria das aves que chegam ao Estado, conta o pesquisador. Ele explica que, na incrível jornada dessas aves, algumas, sofrem com a contaminação por óleo, que os compromete tanto interna como externamente:

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– O óleo danifica a função de impermeabilidade das penas fazendo com que a água alcance a pele do animal. Consequentemente as aves sentem frio pela queda da temperatura corporal. Nesse momento ele sai da água para se aquecer – diz.

Recuperação

O metabolismo de nosso visitante aumenta para manter a temperatura corporal que é de, em média 40°C. Isso faz com que ele gaste muita energia. Sem alimento, ele ficará desidratado e emagrecerá. A camada de gordura ficará menos espessa e a musculatura de natação atrofiará incapacitando o nado e até mesmo a flutuação na superfície da água. Nessas condições, o animal está condenado a morte. É nesse momento que moradores da região ou órgãos ambientais, ao encontrarem o visitante, entram em contato com o Laboratório de Reabilitação de Aves Marinhas do CTTMar/Univali que, desde 1994, atua no município de Penha. Esse laboratório é responsável pelo monitoramento das ocorrências e recuperação das aves marinhas debilitadas que ocorrem na região.

Gilberto conta que, após a recuperação, as aves são liberadas sob condição de estarem absolutamente sadios, selvagens e aptos para desenvolver suas atividades normalmente:

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– Outro padrão que se observa para a liberação é se o animal apresentou, no mínimo, um ganho de peso de 10% em relação ao seu estado inicial – salienta. O professor explica, ainda, que a recuperação destes animais acontece no combate imediato aos efeitos primários, como stress, hipotermia, desidratação, problemas gastrointestinais pela intoxicação por meio da ingestão do óleo e outras substâncias prejudiciais e lesões causadas por capturas acidentais em redes de pesca:

– Cada animal é um caso diferente, e sempre existirão fatores que modificarão os protocolos existentes. Estas tarefas são grandes desafios que merecem todo o nosso esforço e dedicação, pois o nosso empenho e obtenção de conhecimento é uma alternativa de sobrevivência a estas espécies – defende o pesquisador.

Estrelas, mas não os únicos visitantes

Apesar de ganharem mais visibilidade, os pinguins não são os únicos hóspedes do laboratório. A costa catarinense é privilegiada por apresentar uma grande diversidade de ecossistemas. Entre as espécies de aves mais comuns presentes na região da Penha, durante todo o ano, estão gaivotas, trinta réis, atobás e tesourões.

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Manzoni explica que as gaivotas são aves que interagem com o homem, principalmente em locais onde existe a pesca, por receberem alimento com uma mais frequência, criando uma relação de dependência quanto a alimentação. Por outro lado, durante o verão, aumenta a quantidade de alimento disponível nas praias:

– O problema é que muitas vezes estes alimentos encontra-se em estágio de deterioração, aumentando com isso a probabilidade de enfermidades nas aves em decorrência da ingestão de alimentos contaminados – aponta o pesquisador.

Além desses, o laboratório já recebeu tartarugas, leões e lobos marinhos.