Um estudo brasileiro publicado na revista Oncotarget mostrou que a inibição de um RNA conhecido como RMEL3 pode reduzir em até 95% a viabilidade de células de melanoma em cultura.
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Os dados obtidos até agora sugerem que RMEL3 é expresso na maioria dos casos de melanoma. Por outro lado, esse RNA é raramente encontrado em outros tipos de tumores ou mesmo em células sadias. Isso o torna um alvo para uso terapêutico e diagnóstico bastante específico e promissor a ser explorado, explica Enilza Espreafico, professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) e coordenadora da pesquisa apoiada pela FAPESP.
RNA ou DNA?
O RNA é uma molécula muito parecida com o DNA dos cromossomos, que constituem nosso código genético. As informações de como as células devem funcionar, multiplicar, agruparem-se para formar os vários órgãos do corpo, etc., estão escritas nos cromossomos dentro do núcleo das células, por meio do DNA.
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Quando esse DNA precisa mandar uma mensagem para a célula funcionar, os trechos dos cromossomos que tem as informações para essa mensagem, são copiados usando o RNA, e são essas mensagens em RNA que saem do núcleo e vão levar as informações para outras partes da célula. RMEL3 foi o nome dado pelos pesquisadores para essa mensagem em RNA que só as células de tumores de melanoma produzem. O RMEL3 não é produzido nem por outros tipos de tumores, nem por células sadias, por isso os cientistas desconfiaram que ele devia ser importante para o melanoma se desenvolver.
Apagando a mensagem
Os pesquisadores então passaram a investigar como a presença ou a ausência desses RMEL3 alterava a função celular. Os primeiros resultados indicaram que destruindo a mensagem do RMEL3 resultava na morte de até 95% das células de melanoma em cultura, portanto, esse RNA se tornou o alvo preferencial da pesquisa.
Para silenciar o RMEL3 nas células em cultura, o grupo recorreu a um método conhecido como RNA de interferência, que consiste em usar pequenas moléculas de RNA capazes de se ligar ao RNA transcrito do gene-alvo (no caso o RMEL3). Essa técnica se aproveita de uma propriedade tanto do RNA, como do DNA, que é a de se ligar a uma sequencia complementar, formando um par.
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As mensagens de RNA são escritas como um código de 4 letras, AUCG, por exemplo. E a sequencia complementar a esta, seria UAGC. Se uma mensagem em RNA encontra uma mensagem exatamente complementar à sua, elas formam um par, e uma anula a outra.
Qual é a mensagem afinal?
Ao que parece, a mensagem do RMEL3 é um sinal para a célula cancerosa se multiplicar. Algo como ¿liguem todas as máquinas porque temos energia à vontade!¿. Quando o RMEL3 é apagado, os ¿operários¿ da célula, não sabem o que fazer, então ¿desligam¿ tudo e a célula acaba morrendo.
Como as células normais não produzem esse RMEL3, parece que esse procedimento de apagá-lo, não causaria problemas para os tecidos saudáveis do corpo. Isso é muito animador, imaginando que no futuro essa descoberta poderá se transformar em um novo tratamento para o câncer de pele, por exemplo.
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