Pilotos franceses buscam as raízes do correio aéreo, em Florianópolis

Com o intuito de refazer o trajeto dos pioneiros da aviação comercial da França, sete pilotos franceses a bordo de aviões monomotor desembarcaram pela primeira vez em Florianópolis. Eles fazem parte do Raid Latécoère, um rali pelos ares, que apoia projetos ligados a essa história.

Um deles é o restauro do casarão de pilotos, que fica na Praia do Campeche. O estado de conservação impressionou os franceses, que irão buscar parceiros na França, para financiar as obras. Orçado em cerca de R$ 900 mil, o projeto foi aprovado pelo Ministério da Cultura, mas aguarda o envio de alguns documentos.

A construção foi uma das mais de 20 escalas dos aviadores da primeira companhia de correios, a Aéropostale, que durante as décadas de 1920 e 1930 fez entrega de cartas entre Europa, África e América do Sul. A casa é a única que ainda está de pé no Brasil.

Os pilotos paravam nessas casas para descansar e reabastecer os aviões. O escritor Antoine de Saint-Exupéry foi um deles, o que justificaria a passagem dele por Florianópolis.

A ideia é transformar o casarão em um espaço cultural, que abrigará uma exposição permanente com a história da Aéropostale e mostrará costumes dos moradores da Ilha. Também haverá um auditório com capacidade para 100 pessoas para palestras, cursos e exibição de filmes.

Outra atividade que faz parte do Raid é a ida à escolas. Em Florianópolis, eles conheceram o Colégio Municipal Brigadeiro Eduardo Gomes. Surpresos com a infraestrutura, bem diferente do que estão acostumados a ver na África, eles pretendem ajudar a unidade com apoio a projetos pedagógicos. A escola foi escolhida porque oferece aulas de francês gratuitas a cerca de 40 alunos com o apoio da Fundação Saint-Exupéry e da Aliança Francesa. A cada aluno eles entregaram um exemplar do livro O Pequeno Príncipe, em francês.

Rali está no Brasil pela primeira vez

O Raid Latécoère é organizado desde 2007 pelo Aeroclube Pierre-Georges Latécoère e financiado pelos Fundos Latécoère. A missão é revisitar o patrimônio aeronáutico francês, principalmente o da Aéropostale, apoiando projetos humanitários ligados à educação e à aeronáutica.

Mesmo com o maior número de escalas da companhia de correios francesa, o Brasil ainda não tinha recebido a visita do Raid. O presidente do Raid, Hervé Berardi, apoia trabalhos em sala de aula e explicou que eles sempre desejaram conhecer o Brasil, mas que era difícil pelas dimensões. Depois dessa primeira visita, ele afirma que Florianópolis voltará a ser visitada no próximo rali.

Fotos e LP com gravações surpreendem

Dominique Lejeune-Cressend, fundadora do rali, pode ouvir disco com conversas de pilotos Foto: Alvarélio Kurossu

Pelos relatos deixados por aviadores franceses que pousaram em Florianópolis nas primeiras décadas de 1920 e 1930, os manezinhos eram acolhedores. A mesma impressão ficou na passagem dos pilotos do Raid Latécoère na tarde desta terça-feira pela cidade.

Primeiro, um senhor parou o grupo na rua. Luiz Galvão, morador do Bairro Agronômica, ficou sabendo que os pilotos estariam no Campeche e fez questão de ir ao local entregar a eles uma medalha, homenageando os pioneiros da aviação francesa. O economista se diz um apaixonado pela história da Aéropostale em Florianópolis.

– Já li tudo sobre isso. Desde criança ouço essas histórias e me correspondia com a neta de Latécoère (o fundador da primeira empresa comercial da França) – diz Galvão.

Depois, foi a vez de Getúlio Manoel Inácio, pescador e filho de Seu Deca, quem teria recebido o escritor Antoine de Saint-Exupéry na Ilha. Seu Getúlio tocou na flauta a Marselhesa, o hino da França, quando os pilotos chegaram ao seu rancho. Ainda preparou uma mesa com biscoito de polvilho e guaraná.

Os franceses se surpreenderam com as fotos guardadas por seu Getúlio, que recontam a história da aviação em Florianópolis. Mas foi um disco que deixou a todos muito surpresos. O LP traz conversas gravadas dos primeiros pilotos franceses e não é mais encontrado na França.

– É muito emocionante ver em como eles são apaixonados por essa história – disse a fundadora do Raid, Dominique Lejeune-Cressend, que pretende voltar a Florianópolis o quanto antes.