O rosto muito jovem e os cabelos castanhos levemente desarrumados contrastam com a sobriedade da camisa social azul e da calça jeans devidamente ajustados ao corpo magro do pianista blumenauense Vitor Zendron da Cunha. Apesar da pouca idade – 19 anos completados há uma semana – Vitor carrega nas costas uma peculiar responsabilidade: embarca no final do mês para a Alemanha, onde fará um curso superior de Piano em Karlsruhe, cidade próxima à fronteira com a França. Antes, sobe ao palco do Teatro Carlos Gomes nesta quinta-feira, às 20h _ pela primeira vez sozinho _ para um recital de despedida e agradecimento à cidade.

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Confira a entrevista com o jovem artista:

Vitor foi pontual. Recebeu o Santa às 16h30min na sala 101 da Escola de Música, no Teatro Carlos Gomes. No centro do recinto, dois pianos alemães Steinway & Sons aguardavam o músico. Pintados de preto com detalhes em dourado, os instrumentos mantiveram o silêncio até que os dedos compridos do rapaz tocassem as teclas.

E foi assim que a entrevista começou: ao som da peça Arabesque, do alemão Robert Schumann. Da banqueta de couro preto, onde passa mais de quatro horas todos os dias, o blumenauense nascido no Garcia contou sua história e falou sobre expectativas, medos e o futuro.

A única vez em que o tom suave de voz desafinou foi quando falou do que deixará para trás em busca do sonho de seguir a carreira de músico: os pais, as duas irmãs e a cadela Laica. Sem falar na comida da mãe.

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A língua germânica não o assusta. Vitor fez um curso intensivo e garante que não passará trabalho com o idioma. Quando chegar na Alemanha, será recepcionado pela professora Fany Solter e participará como aluno ouvinte na classe da professora Sontraud Speidel para, em setembro, finalmente dar início ao curso superior em Piano.

Um músico introspectivo

O pianista considera-se uma pessoa introspectiva: não tem namorada, não costuma sair à noite para bares e baladas e garante ter poucos amigos. Apesar da característica – que garante ter o afastado dos jovens da mesma idade -, Vitor sabe se comunicar: conversou com a reportagem do Santa por mais de uma hora e gravou e regravou chamadas em vídeo. Em meio a tudo isso, não faltou, é claro, muita música clássica.

– Me considero diferente da maioria dos rapazes da minha idade. Sempre fui muito dedicado aos estudos e introspectivo – resume o artista.

A dualidade na vida do jovem pianista vêm novamente à tona quando questionado sobre os hobbies no tempo em que não está estudando música. Se por um lado identifica-se com o romantismo das poesias de Álvares de Azevedo e dos clássicos de Machado de Assis – personalidades que podem ter influenciado seu lado introspectivo -, garante que como jovem não abre mão do videogame e dos jogos de computador.

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Vitor lembra ainda da primeira vez que viu um piano: ainda era criança e o pai o levou a uma casa que tinha o instrumento. Aos oito anos foi matriculado pelo pai na primeira aula. Daí em diante, teve que conciliar as aulas de piano com os estudos no Colégio Sagrada Família. No entanto, considera-se pianista desde 2010, quando venceu o primeiro concurso. Em 2015, teve seu nome reconhecido no cenário da música clássica nacional ao chegar nas finais do concurso Prelúdio, da TV Cultura. Agora, é hora de alçar vôos mais altos em solo europeu.

O primeiro recital solo na terra natal

O recital desta quinta-feira no Teatro Carlos Gomes é uma espécie de reverência à terra natal de Vitor antes de subir na aeronave que o levará para mais perto de seus sonhos. Vitor já participou de recitais no Peru e na Polônia, recebeu prêmios em concursos nacionais e internacionais, mas ironicamente nunca subiu sozinho em um palco blumenauense. E, agora, fará isso menos de duas semanas antes de partir. O fato confere ao recital uma aura de simbologia, garante o jovem.

– Traz uma sensação de dever cumprido. É frustrante sair escondido. Um pianista tem que fazer um recital solo. É uma coisa básica – afirma.

No repertório, Vitor apresenta composições de artistas importantes na sua vida musical, como Bach, Beethoven, Schubert, Schumann e Chopin. A renda com o evento integrará a poupança de 8 mil euros exigida pelo governo alemão para que o jovem ingresse no país.

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AGENDE-SE

O quê: Recital de Piano Vitor Zendron da Cunha

Quando: Nesta quinta-feira, às 20h

Onde: Teatro Carlos Gomes, no Grande Auditório Heinz Geyer

Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia) à venda na bilheteria do Teatro ou através do Clube do Piano.