A região de fronteira da Bolívia com o Brasil, no Mato Grosso do Sul, é um dos escoadores de cocaína para os estados do Sul. O local estratégico na geografia do tráfico na América do Sul serviu para uma base do PGC, gerenciada por criminosos de Santa Catarina.

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Áudio conferências eram realizadas por presos nas cadeias. Pela farra de celulares nos presídios, dificilmente há de se crer que esse meio esteja aniquilado no Estado. Mesmo trancafiados, os detentos orquestravam o tráfico de drogas, decidiam sobre crimes e combinavam associações ilícitas.

No final de 2010, a Deic descobriu que verdadeiros escritórios do crime estavam enraizados naquela região. O responsável era Nelson de Lima, o Setenta, um dos fundadores da facção. Setenta estava na Penitenciária de Dois Irmãos do Buriti (MS), lugar que foi enviado após ser capturado, em março de 2010, na Ponte Pedro Ivo Campos, em Florianópolis, acusado de tráfico.

O criminoso se utilizava de um ramal como uma central telefônica, em que diversos interlocutores interagiam por áudio conferência. Há diálogos em que Setenta e Davi Schroeder, o Gângster, falam sobre mortes de integrantes da facção em desacordo e de atentados contra policiais.

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Os aparelhos com planos pós-pagos de telefonia celular eram adquiridos de maneira criminosa e funcionavam livremente até a operadora identificar a irregularidade e efetuar o corte _ no submundo do crime esses aparelhos são chamados de direitinhos ou celulares de estouro, aparelhos baratos e usados por curto espaço de tempo.

Uma escuta revelou a tentativa do PGC em estabelecer uma filial na principal porta de entrada de drogas no Brasil. Um homem identificado como Pé de Porco, que diz ser do Mato Grosso do Sul, conversa com Setenta, que comunica a intenção de batizá-lo no PGC para que atue como precursor da organização naquele estado e ainda recrutasse bandidos locais.

O objetivo era expandir a facção catarinense e torná-la interestadual, para turbinar ganhos com o tráfico de cocaína, crack e maconha para Santa Catarina. Grampos policiais revelaram que a tentativa foi frustrada por uma facção do próprio MS. A maior parte dos diálogos feitos por áudio conferência era com Leomar Borges da Silva, o Leoma, morador do Bairro Fazenda do Max, em São José.

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Ele era uma dos principais líderes do PGC nas ruas e tinha a função de distribuidor de drogas, tesoureiro e era responsável pela comunicação da facção _ o criminoso é um dos 40 transferidos para penitenciárias federais em fevereiro. Leoma e outros catarinenses se juntavam a criminosos locais para transportar drogas entre os estados, formando um consórcio do crime para financiar cargas de entorpecentes.

Dali surgia a tentativa própria de expansão como forma de turbinar o tráfico, o motivo pelo qual a polícia conseguiu mantê-lo preso. As investigações foram complexas e difíceis justamente pelo fato de a rede criminosa ser extensa e promover mudança constante de atuação e troca de aparelhos celulares e de números. As comunicações envolviam principalmente líderes da facção.

Em 13 de setembro de 2010, com autorização do juiz Pedro Walicoski Carvalho, a Deic interceptou mais de 30 telefones em que Setenta e outros presos se comunicavam.

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