Desde 30 de novembro de 2011, o Primeiro Grupo Catarinense (PGC) mantém um aliança com o Comando Vermelho (CV), organização criminosa do Rio de Janeiro que domina os morros cariocas desde a década de 1970.

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As negociações secretas começaram em 2008, quando 15 líderes da facção criminosa catarinense foram enviados para penitenciárias federais por causa de uma onda de homicídios dentro da penitenciária de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis.

Na ocasião, as conversas evoluíram, mas o acordo não foi fechado porque faltava a anuência do homem apontado como número da organização carioca, o narcotraficante Fernandinho Beira-Mar, atualmente preso na penitenciária federal de Catanduvas (PR).

O relato consta em uma carta interceptada pela Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), assinada por Evandro Sergio Silva, o Nego Evandro, integrante do primeiro ministério do PGC. No texto, ele divulga que foram estipulados quatro termos para a parceria: cada facção deveria batizar criminosos somente dentro de seu estado; os estatutos próprios seriam mantidos; haveria ajuda dentro das possibilidades de cada organização; e os inimigos de um seriam inimigos de outro.

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A política de segurança pública do governo do Rio de Janeiro de implantar Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) avariou o poder do CV. Mas isto não significa que a organização não continue sendo uma máquina de fazer dinheiro por meio do tráfico de drogas. Tanto que não é este o motivo responsável por levar a Polícia Civil de SC a minimizar o acordo. Ela justifica que o foco do Comando Vermelho é o Rio de Janeiro e que o único interesse é preservar este mercado. Pelo mesmo motivo, não haveria qualquer envolvimento com o crime em Santa Catarina, conforme as autoridades.

Mas informações a que o DC teve acesso confirmam que o acerto não ficou só na palavra. O Comando Vermelho se comprometeu a disponibilizar quantas armas fossem necessárias aos criminosos de Santa Catarina. A facção do Rio de Janeiro ainda ofereceu treinamento no manuseio de fuzil e metralhadoras, a ser feito nos morros cariocas.

A ligação é bem estreita com o Morro do Horácio, na região central de Florianópolis. O traficante Rodrigo de Oliveira, o Rodrigo da Pedra, chefe do tráfico no local, é um dos fiadores da aliança. Ele inclusive fechou um acordo com Elias Maluco, assassino do jornalista da TV Globo Tim Lopes, morto em 2002. O acerto determinava envio mensal de 100 quilos de cocaína ao Rio de Janeiro. O criminoso catarinense pegaria os carregamentos de Irineu Domingos Soligo, o Pingo, barão da droga no Paraguai e um dos maiores narcotraficantes do Brasil.

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Nem mesmo as comemoradas transferências dos 40 líderes do PGC para as penitenciárias federais, em fevereiro, cessaram o problema. Em interceptação telefônica da Deic, a mulher de Rodrigo da Pedra, Simone Saturnino, afirma que essa condição possibilita ao criminoso nova oportunidade de firmar contatos. Neste cenário, a unidade prisional estadual com Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), prometida pelo governo de Santa Catarina, se torna mais que vital. O problema é que até agora o projeto continua sendo apenas uma proposta. Se nada ocorrer, os líderes voltarão a ser misturados com a massa carcerária e há temor de que a bomba volte a estourar daqui a dois anos, tempo máximo que os criminosos do PGC poderão ficar na penitenciárias de segurança máxima nacionais.