Reconhecido internacionalmente pela criação de uma escala que relaciona esforço e recompensa no ambiente de trabalho, o sociólogo suíço Johannes Siegrist, 66 anos, é um dos maiores especialistas em estresse profissional e doenças relacionadas.
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Professor de sociologia médica e diretor do curso de pós-graduação em saúde pública da Universidade de Düsseldorf, na Alemanha, Siegrist diz que a maioria das pessoas se esforça demais e recebe de menos em troca. O sociólogo participa hoje da palestra de abertura do 10º Congresso de Stress da ISMA-BR, em Porto Alegre.
Ontem, Siegrist conversou com Zero Hora sobre sua pesquisa:
Zero Hora – Como funciona a escala que o senhor criou para avaliar a relação entre esforço e recompensa?
Johannes Siegrist – O estresse no trabalho não pode ser analisado diretamente. É preciso perguntar para saber o nível, não sendo possível obter essa informação apenas da observação. A escala foi feita por meio de um questionário, no qual dividimos uma série de perguntas em três grupos: esforço, recompensa e comprometimento excessivo. Em cada situação, perguntamos o quanto a pessoa sente ou não aquilo. Ao fim, temos três valores diferentes. Relacionando-os, podemos mensurar o nível de estresse da pessoa.
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ZH – Quais os resultados encontrados pelo senhor?
Siegrist – A maneira de quantificar o nível de estresse é relacionando esforço e recompensa, porque a maioria das pessoas se esforça demais e recebe de menos, abaixo do que elas consideram suficiente. Desde o começo do estudo, nos anos 80, aplicamos esse questionário a milhares de pessoas. E as continuamos acompanhando por vários anos para saber quantos tiveram ataque cardíaco ou depressão. Em média, foram sete anos de acompanhamento. Comparando com as respostas dadas previamente, podemos concluir que pessoas que tinham alto grau de estresse tiveram ataque cardíaco, depressão ou algum problema de saúde. Claro, isso não foi a regra para todos.
ZH – Quais outros danos à saúde foram identificados?
Siegrist – Também identificamos nos homens suscetibilidade ao alcoolismo e diabetes tipo 2. Os estressados também sofrem outros problemas. Muitas pessoas acompanhadas deixaram o trabalho anos antes de se aposentar, por causa do estresse. Com o passar do tempo, a pesquisa foi evoluindo. Passamos a usar exames para mensurar o nível de estresse.
ZH – Essas consequências à saúde se aplicam para o estresse do cotidiano?
Siegrist – Sim. Apesar de o estudo ser voltado para o ambiente de trabalho, incluindo atividades voluntárias, a relação entre esforço e recompensa está no dia a dia, em qualquer relação interpessoal. No caso do trabalho, o estresse está em todos os lados, em todas as profissões e idades, mas é mais alto entre as pessoas com baixa qualificação e escolaridade.
ZH – Na semana passada, uma pesquisa divulgada em São Paulo apontou que o estresse é pior em casa do que no trabalho. O senhor concorda?
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Siegrist – Como não conheço essa pesquisa, a metodologia, é difícil avaliar porque não sei como perguntaram e qual o período analisado. O estresse é normal hoje em dia, está em todas as atividades. Para chegar ao nível de estresse, só perguntar não permite mensurá-lo.