Nunca a expressão “as aparências enganam” foi tão verdadeira como nos dias de hoje. Para o bem e para o mal. Pessoas parecem o que não são – e muitas vezes não são o que parecem. Bichos a mesma coisa. Na minha rua tem um cachorrinho com uma cara meiga mas que é uma fera e outro que dá medo só de olhar, mas que é doce e simpático. Com as cidades, acontece o mesmo. Você se encanta com ela, quando a visita, e pensa que é o paraíso, a ponto de vender tudo e se mudar. Mas é só virar morador para começar a perceber seus problemas. Quase nada é realmente o que parece à primeira vista. Continua depois da publicidade – Aquele cara ali, na areia, supermusculoso, com um dragão enorme tatuado nas costas, está vendo? – me pergunta uma amiga, na praia. Respondo que sim. Ela me pede para adivinhar a profissão dele. Tatuador, surfista, personal trainer, esportista, fisiculturista, publicitário, office- boy… Desisto. Não sei. – É um cientista superconceituado, trabalha com pesquisas genéticas fora do Brasil. Veio passar o final de ano com a família, que é daqui – ela me conta. Não parece, mas ele é. Continua depois da publicidade Encontro com uma aluna no shopping, que está junto com outra moça, tão linda quanto ela. Eu logo pergunto: – É sua irmã? Vocês são muito parecidas. Elas riem e contam que muita gente já perguntou a mesma coisa. São mãe e filha, e têm 20 anos de diferença, embora não pareça. Que genética boa! Um ex-colega passa por mim dirigindo uma camionete, destas importadas e caríssimas. A primeira coisa que penso é que conseguiu um trabalho muito bom, porque até pouco tempo estava desempregado. Dias depois encontro a mulher dele no mercado. Conversa vai, conversa vem, ela conta que tem andando bem preocupada. – Acho que vamos ter que tirar as crianças da escola particular. A grana tá curta. – Mas eu vi teu marido num baita carro. Achei que vocês estavam bem _ comentei. – Que nada. Ele gastou as economias na entrada do carro, e agora quero ver como vai fazer para pagar as 48 prestações… Continua depois da publicidade Ele queria manter as aparências. Muita gente não aparenta o que é – como o cientista e a mãe da minha amiga. Mas um número muito maior de pessoas quer aparentar aquilo que não é, como o meu ex-colega, que prefere fugir da realidade à encará-la de frente.
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