O dia a dia de muitos trabalhadores brasileiros é marcado por esforços, privações, mas também por superação. Rudolfo Duwe Junior, 31 anos, vai para o trabalho todo dia de bicicleta, um percurso de 30 minutos entre Schroeder e Jaraguá do Sul. Ele trabalha há quase 12 anos na WEG.
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A superação de Rudolfo não está nos quilômetros que pedala para trabalhar, mas no fato de ter superado sua deficiência intelectual e ser destaque na seção em que atua, onde há 40 funcionários. Em 2003, por meio do Projeto Sonho da Weg, em parceria com Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Jaraguá do Sul, Rudolfo conseguiu uma vaga depois de passar por mais de 400 horas no Programa de Educação e Trabalho da entidade.
Durante este período na Weg, ele foi promovido três vezes e, hoje, é operador líder do setor de Planejamento e Controle de Produção 4. Segundo o chefe da seção, Amauri Tecilla, a deficiência intelectual do Rudolfo não atrapalha no desenvolvimento do trabalho. Pelo contrário, é um dos funcionários com mais atenção, determinação e comprometimento com a empresa.
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– Ele não tem faltas, nem atrasos. É um dos funcionários mais produtivos. Não há diferença dele para um funcionário que não tem deficiência intelectual – relata.
No setor de Rudolfo, os operários montam kits de motores e há uma seção de expedição que monta kits específicos para determinados clientes. Segundo Tecilla, é uma área que exige muita concentração, pois são pedidos únicos, e é nela que Rudolfo se sobressai.
– Um erro do Rudolfo é coisa rara, pois ele sempre procura fazer tudo com perfeição. Depois do expediente, ele vem todos os dias conferir se batemos a meta. Se conseguimos, ele dá um grito de comemoração, se não, motiva a equipe dizendo que amanhã vamos conseguir – relata Tecilla.
Orgulho de si
Rudolfo afirmar sentir orgulho do trabalho que desenvolve. Com brilho no olhar, ele conta que antes trabalhava na produção de motores e sempre quis saber para onde os produtos iam.
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– Eu sei de cor para onde devo enviar cada motor: China, Estados Unidos e outros locais. Destes lugares, quero conhecer o Canadá um dia. Gosto de paisagens e vi que lá tem lugares lindos – declara.
Além disto, ele participa do conselho do setor, no qual os funcionários discutem e sugerem melhorias para a área. Rudolfo afirma ter orgulho de não ter desistido e poder participar das ações da empresa.
O operário conta que foi incentivado pelos pais a trabalhar e o primeiro salário foi para ajudar em casa e comprar algumas roupas. Com o falecimento dos pais, hoje, mora com a irmã Rosane que tem um filho de dois anos.
– Eu já pensei em ir para o turno normal, mas tenho que ajudar a cuidar do neném. E também gosto dos meus colegas.
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Ariane Barba (E), 20 anos, Carolina Petris, 22 anos e Andriele Caetano da Silva (D), 23 anos durante a aula de panificação na Apae de Jaraguá do Sul.
Encaminhar ao mercado de trabalho
Assim como Rudolfo, mais de 70 ex-alunos da Apae de Jaraguá do Sul participaram do Projeto de Educação e Trabalho, que tem mais de dez anos. Hoje, 44 alunos fazem parte do programa que possui três níveis.
– Eles começam com pouco de teoria e prática na Iniciação Profissional. Primeiro, frequentam a casa terapêutica, onde ganham autonomia para ajudar em casa. Eles lavam a louça, arrumam as camas e fazem outros serviços domésticos. Também incentivamos que comecem a vir sozinhos, pois vão fazer o mesmo quando estiverem trabalhando – explica a psicóloga e coordenadora substituta do projeto, Luciane Pereira.
Depois, passam por mais dois níveis: formação profissional um e dois. Os alunos têm duas opções de curso profissionalizante, de panificação e lavação de carros. Segundo Luciane, os dois cursos foram ofertados por causa das doações que recebem e da demanda de veículos da instituição.
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– Durante o curso, eles aprendem a trabalhar em grupo, a se comunicar, a exercer uma tarefa. Também têm noção de direitos trabalhistas e sobre segurança no trabalho.
Para o aluno ser destinado ao mercado de trabalho, é preciso passar pelos testes realizados ao longo do programa que dura cerca de quatro anos. Luciane explica que os estudantes só concluem o curso quando conseguem realizar as atividades e estiverem preparados emocionalmente. Além disto, a Apae encaminha o aluno para a vaga que mais se encaixa com o seu perfil e faz um acompanhamento de adaptação que dura seis meses.