Dois pesquisadores de Santa Catarina embarcam na próxima quinta-feira para uma viagem à Antártica. Eles vão acompanhar a Força Aérea Brasileira (FAB) em um voo para lançamento de carga que vai levar mantimentos e equipamentos para oficiais que trabalham na estação administrada pela Marinha no continente gelado.
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A viagem faz parte do projeto PolarSapiens, iniciado em 2013. A intenção do estudo é fazer pesquisas sobre saúde, segurança e condições de trabalho para profissionais que atuam em regiões isoladas, como desertos, montanhas, além das regiões polares. Nos últimos anos, o grupo já acompanhou trabalhadores em locais no Deserto do Atacama e ainda pretende atuar no Monte Everest, no Nepal.
A psicóloga Paola Barros Delben, que idealizou o projeto quando ainda era universitária, já participou de seis expedições à Antártica desde 2014. Os trabalhos ocorreram em navios de apoio, na própria estação antártica e com a tripulação de 10 militares da FAB que faz operações aéreas no inverno – como a que a dupla de SC vai acompanhar novamente a partir desta semana. Nessas operações, fatores como o isolamento e o cansaço com as longas jornadas e as tarefas de alta responsabilidade são identificados como pontos a serem sempre desenvolvidos para evitar situações de risco.
Entre os mantimentos e itens enviados aos 15 oficiais que ficam isolados no inverno da Antártica, as cartas e presentes das famílias são alguns dos objetos mais esperados.
Paola e o professor Roberto Moraes Cruz, que integram o projeto, devem acompanhar quatro dias de atividades antes de retornar para o Brasil. O trabalho começa quinta-feira com preparação no Rio de Janeiro, inclui parada para carga no Chile e ao menos nove horas de atividade no continente gelado (confira abaixo como será a jornada).
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Em 2016 e 2017, as pesquisas feitas em viagem solo de Paola serviram de base para a pesquisa de mestrado da profissional. Agora, Paola desenvolve o doutorado com a intenção de criar protocolos de gestão de risco e de comportamento seguro nessas regiões. Um grupo de pesquisa com 20 participantes, de áreas como medicina, direito, relações internacionais e psicologia, participa dos estudos.
A pesquisa também é acompanhada por um projeto audiovisual que pretende transformar as informações em uma série de sete episódios, a XSapiens, sobre pessoas que trabalham em lugares hostis e como os organismos respondem a essas condições adversas de atividade.
— Os resultados esperados envolvem programas de gestão de risco para o mapeamento, avaliação e intervenção nos mais diferentes contextos, em que o resgate ou socorro em casos de emergência é remoto e exige dos expedicionários capacitação diferenciada para lidar com os riscos prováveis e severos — conta a pesquisadora Paola, afirmando que a prevenção de acidentes, doenças, crises, como o assédio, trazem resultados econômicos, sociais e científicos.
O projeto firmou um acordo de cooperação com a FAB. Com isso, uma psicóloga da Aeronáutica vai acompanhar o trabalho dos pesquisadores catarinenses para replicar o protocolo de prevenção de acidentes em jornadas em locais extremos nas ações da Força Aérea.
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Programa busca recursos para próximas etapas
O PolarSapiens é coordenado desde 2014 pelo laboratório Fator Humano da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), comandado pelo professor Cruz. O programa já contou com recursos da UFSC em uma das viagens dos pesquisadores, em 2016, de um patrocinador privado pontual na viagem ao Deserto do Atacama, no Chile, e foi aprovado em um edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq). No entanto, para a continuidade do projeto, o grupo busca recursos junto a pessoas físicas ou privadas, como doações ou patrocínios. É possível fazer contato com os responsáveis pela página do laboratório Fator Humano da UFSC na internet (fatorhumano.ufsc.br) ou pelas redes sociais.
Como será a operação de inverno na Antártica
— Na quinta-feira, a tripulação se reúne no Rio de Janeiro e discute todas as etapas da operação, com treinamento de pouso e decolagem na neve e do lançamento de carga propriamente dito.
— No domingo, a tripulação parte de avião do Rio para Pelotas (RS), onde a Estação de Apoio Antártico de Rio Grande (Esantar) leva vestimentas como casacos corta-vento, luvas e botas de neve aos participantes. Também lá o grupo recebe parte da carga a ser levada
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— Na segunda-feira, partem de Pelotas a Punta Arenas, no Chile, uma das cidades mais próximas da Antártica, onde se preparam para as travessias. Ali o avião Hércules é abastecido com outras cargas como alimentos e o grupo aguarda uma janela meteorológica que permita a ida ao continente gelado.
São necessárias ao menos nove horas de tempo bom, sem ventos fortes e com visibilidade, para cada travessia. Três horas para ir de Punta Arenas à Antártica, três horas de operação no continente gelado e três horas para voltar.
— A tripulação brasileira desce na estação chilena, graças a um acordo de cooperação. No inverno, a estação brasileira fica isolada. Por isso, as cargas e mantimentos serão lançados em sobrevoos feitos a partir da base chilena. Também será feita uma visita de convidados e um treinamento de pouso, já que as condições da pista no continente gelado exigem habilidade especial. As travessias devem se repetir por quatro dias, a partir da terça-feira, conforme as condições do clima.