A chuva fina que ocorreu na manhã desta quinta-feira (18/7) não impediu a instalação do campo de pesquisa internacional no alto do Sambaqui Moro do Ouro, que tem cerca de 5 mil anos, e fica ao lado da ponte do Trabalhador, no bairro Guanabara, em Joinville.

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O doutor em arqueologia André Carlo Colonese pela Universidade de York, na Inglaterra, acompanhou pessoalmente a montagem das tendas. A escavação iniciou no período da tarde, processo em que serão separados materiais ósseos e líticos (pedras lascadas e polidas) para análises de laboratórios que serão feitas no Brasil e na Inglaterra. Estão envolvidos estudiosos da Univille (Universidade de Joinville), Museu Nacional do Rio de Janeiro e Museu de Sambaqui de Joinville.

— Esta pesquisa envolve várias universidades brasileiras e inglesas, mas não seria possível sem a parceria fundamental do Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville e do setor de Arqueologia da Univille. Foram eles que fizeram um trabalho fantástico, que permite, inclusive, o envolvimento da National Geographic neste trabalho — destacou o professor, que fica no Brasil até a próxima semana.

A pesquisa quer entender melhor o processo de formação do sítio, se o sistema dos moradores era de caça e coleta ou se, de alguma forma, envolvia o cultivo, isto é, se produziam o próprio alimento. Colenese lembrou que o sítio, na verdade, é de um grande cemitério indígena, que foi formado por muitas gerações. Em escavações anteriores, foram encontradas várias sepulturas, entre os sedimentos.

De acordo com o doutor Colonese, exames patológicos ósseos e também do tártaro dos dentes dos indivíduos que estavam sepultados no local, e também de agentes patógenos, indicaram o consumo de plantas. Serão feitas análises de DNA dessas amostras e também a avaliação estatigráfica, para entender como ocorreram os depósitos sedimentares.

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Até o dia 10 de agosto, trabalharão no campo de pesquisa dez arqueólogos e vinte estudantes voluntários. A trincheira a ser escavada tem 20 metros quadrados. A partir do dia 22 de julho, interessados em acompanhar as escavações podem comparecer ao local, entre 10 e 16 horas. A visitação estará aberta apenas depois de já terem decorridos quatro dias de escavação para permitir melhor visualização.

Onde começou a investigação

Segundo a coordenadora do Museu de Sambaqui, Roberta Meyer, além de peixes e frutos do mar, o consumo de outros alimentos era mera suposição, sem comprovação. Em 2007, a pesquisadora Verônica Wesolowski, da Universidade de São Paulo, descobriu por meio de análises no Sambaqui Morro do Ouro que esses povos também se alimentavam de amido e tubérculos como milho e cará.

A comprovação veio com investigação feita em 2016 pelo arqueólogo André Carlo Colonese pela Universidade de York. Ao analisar fragmentos de ossos de costela comprovou o consumo de vegetais. Agora, a partir da próxima semana, o trabalho será aprofundado e poderá colocar Joinville como referência em nova conceituação sobre os usos e costumes alimentares dos homens dos sambaquis.

Os trabalhos comandados por Colonese consistirão em escavações, coleta e bateria de análises de fragmentos, inclusive de DNA, para comprovação e identificação dos vegetais consumidos pelos sambaquianos da Mata Atlântica.

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Os sambaquis em Joinville

Joinville, por sua localização próxima ao mar, é um dos municípios de Santa Catarina que concentram número expressivo de sítios formados por sambaquis. São 41 sítios arqueológicos em forma de montes, alguns com mais de 25 metros de altura, que contém, entre outros objetos, conchas, esqueletos humanos, pedras e ossos de animais e cerâmicas.

Durante o período de urbanização, muitos sambaquis foram destruídos. O material retirado dos sítios era utilizado para a fabricação de cal e para o calçamento de ruas. Somente em 1961 tais sítios arqueológicos foram tombados pela União, passando a ser considerados patrimônios históricos e culturais brasileiros.

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