A pesquisadora catarinense Laklãnõ Xokleng Waldares Coctá Priprá conquistou o Prêmio de Excelência em Mestrado 2021, concedido pela Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB).

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Intitulada “Lugares de acampamento e memória do povo Laklãnõ Xokleng, Santa Catarina”, a pesquisa da indígena catarinense teve o objetivo de registrar os lugares que ficaram na memória do povo Laklãnõ Xokleng por meio de fotos, entrevistas com os anciãos e sábios e visitas aos locais de acampamentos e cemitérios antigos do povo.

Waldares atuou como professora por 12 anos na escola “Vanhecú Patté” dentro da aldeia na Terra Indígena, na região do Vale do Itajaí, e ali iniciou as pesquisas sobre as histórias e memórias do seu povo.

– O tema surgiu após várias rodas de conversas com os anciões da minha aldeia – explica Waldares.

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Ela é a segunda indígena a defender uma dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em História (PPGH), mas a primeira a obter a conquista após a implantação da política de ações afirmativas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ela também foi a primeira indígena a defender um título de pós-graduação na área de Arqueologia no Brasil.

– Sou pesquisadora e professora dentro da minha comunidade e sempre registrava as rodas de conversas e os eventos dentro da comunidade, então muitas fotos e documentos eu tinha em meus arquivos outras busquei junto da comunidade e ter o privilégio de ouvir as histórias narradas, dos locais de memória pelos anciões, foi muito importante para registrar.

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“É um marco importante para a nossa história”

Para a realização do trabalho, foram mapeados os locais de memória, os acampamentos mais antigos e também aqueles que surgiram logo após o contato com não-indígenas ocorrido em 1914, conhecido como “pacificação”.

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Questionada sobre a importância do reconhecimento da Associação Brasileira de Arqueologia, Waldares falou do significado da conquista para o povo Xokleng:

– É um marco muito importante para a história do meu povo, pois, nesse momento muitas pessoas passaram a conhecer o povo Laklãnõ/Xokleng através deste trabalho. Meu povo é remanescente e sobrevivente de um processo brutal da colonização, tudo em nome do chamado “progresso” que quase nos exterminou.

Ela ainda completa:

– Ter esse reconhecimento só mostra que estou no caminho certo, mas como sempre falo, o crédito todo é para todos os anciões, sábio e muitos da comunidade que sempre me ajudaram e incentivaram a seguir com a pesquisa.

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“A ação do Marco Temporal, no STF, é um risco de perdermos nossos direitos”

Atualmente, o povo Laklãnõ Xokleng encontra-se em sua maioria em Santa Catarina, no Alto Vale do Itajaí, cercado pelos municípios de José Boiteux, Doutor Pedrinho, Vitor Meirelles e Itaiópolis, locais onde a pesquisa foi realizada. Neste momento, os Xokleng encontram-se no centro de uma disputa, o Marco Temporal, no Supremo Temporal Federal:

– Esta é uma questão que tem tirado o sono de muitos aqui na Terra Indígena e de muitos indígenas do Brasil. Sabemos que o marco temporal é inconstitucional é uma ação que defende que nós só podemos reivindicar as terras onde estávamos logo após a promulgação da Constituição Federal. De um lado temos vários inimigos como a bancada ruralista e muitas instituições ligadas ao agronegócio que defendem essa tese. Do outro, nós povos indígenas corremos um sério risco de perder nossos direitos que foram garantidos na Constituição Federal e perder nossas terras que estão em processo de demarcação. A Terra Laklãnõ é uma das muitas que estão nesse processo de demarcação.

Waldares Coctá Priprá nasceu na Terra Indígena Laklãnõ de Ibirama, é graduada em Licenciatura Letras Português-Espanhol, na Uniasselvi e Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica com Ênfase em Humanidades na UFSC. Tornou-se Mestre em História com linha de pesquisa em Arqueologia.

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Sobre o prêmio

O II Prêmio de Excelência em Graduação, Mestrado e Doutorado, promovido pela Sociedade de Arqueologia Brasileira, reconheceu a originalidade e a excelência de pesquisas acadêmicas sobre temas relativos à Arqueologia no Brasil.

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O valor total da premiação foi de R$ 7 mil, distribuídos entre os contemplados de cada categoria. O resultado foi divulgado em novembro durante o XXI Congresso da SAB.